EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA
James Matthew Barrie
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh2jIg5evIOj1G5aheVfStnKJeI212S5GCIswulj8SYmhjNzxXEACXLJcvoNci0YgNaNEjGlfWxjDLSAusmxpiYWuJBBkIv6oT91ZGpYS1umrn__lIlrGXke-etMjtwpCt17hjUDr-M9IE/s400/113peterpan.jpg)
Do início das palavras de Géssica, logo poderia se prever que essa personagem mais que real estaria tão próxima do menino Peter Pan, imortalizado pelo escritor escocês James Matthew Barrie a partir de 1904, quando foi criado. Para Géssica, estar na Terra do Nunca era viver sem ter grandes preocupações – insira aqui o crescer – ou em quem se espelhar como ídolo/objeto de veneração.
A filha única e sua inseparável cadela Dolly viviam alheias em um mundo que as tirava da aparente solidão em volta e também de seus problemas. E quando vinham as dificuldades, a mãe logo pedia que a menina fizesse uma oração. Géssica, entretanto, nunca tivera uma religião formada, sua mãe também não e ambas sabiam muito bem disso. Assim, era fácil, a partir das “orações”, lembrar de certas situações de perigo. Como quando um desgovernado balanço atingiu a criança desatenta na escola, ou quando o ladrão ousado tentou roubar seu casaco – com ela dentro dele! Nesses momentos era como se ela não quisesse estar lá, queria fugir.
E fugiu. Géssica partiu para uma de suas primeiras visitas à sua Terra do Nunca, onde “todas as crianças, exceto uma, crescem”. Tudo aconteceu quando ela decidiu partir para casa de uma de suas únicas amigas, Tarsila, e lá ela ficou até sua mãe ir buscá-la, o que não demorou muito. A Terra do Nunca não se caracterizava por um ponto fixo, mas nos lugares onde Géssica sentia a segurança de não ter em mente os delírios da realidade.
Agora mais uma fuga. Porém, não de casa e não tão drástica. A nova Terra era uma casa abandonada que servia de abrigo para animais igualmente abandonados que Géssica e alguns poucos amigos interessados na causa cuidavam. Nesse breve período, passaram por lá três gatos, dois cachorros e uma coruja – os Garotos Perdidos de Peter Pan – que tiveram apoio físico (e por que não psicológico?) até que a casa fosse alugada. Essas constantes fugas ao Nunca pareciam, em contrapartida, levar Gésssica de volta ao seu mundo real, fosse a mãe que a buscava ou um fato que a interrompia. E foi fora do imaginário que a mãe de Géssica, acompanhada da filha e saindo um dia da casa de Tarsila – a Wendy da história – perdeu o controle de sua moto e as duas foram lançadas ao chão após um choque contra o poste. Nesse momento, quando a união ficou mais instável, veio a certeza de ambas estarem no mesmo lugar e compartilharem os mesmos territórios. Uma dependia da outra e seria sempre assim.
O passar dos anos a fez sair de casa em definitivo e agora adquiria novos talentos vivendo sua liberdade longe de sua mãe, não dos olhos dela. Ela podia ser, então, quem quisesse quando quisesse. A menina inteligente e dotada de ganchos a fez também o Capitão, capaz de bem dosar suas palavras, fossem escritas ou faladas. A mágica da ironia, da versatilidade e rapidez em construir o genuíno fez com que seus recentes amigos da universidade passassem a reconhecer seus encantamentos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg59AWUl_uPG6jXDQxpnOSzHgOlYlqOqvf-Yimt46ZztL44zNIpdhrozYtguaGrD0gHUeMjSZ3WEADpobanWCvRQ_dDY_xBvtLcJbXM9eY-x_yaU3K1rwZbOd164tYV7q7Y7J5FpXwM3NAo/s400/aaaPETER_PAN_PE-Photo_01.jpg)
Mas as coisas não são sempre assim e, para Géssica, sentir a si mesma com tanta intensidade é de sua constituição. Hoje, ser como Peter Pan e manter-se criança faz parte; bem como ser Sininho e poder ir, por quanto tempo quiser, para as partes mais distantes do Nunca sem ter resistências; e possuir o inevitável e paradoxal gancho que fica cutucando por dentro seu corpo dizendo que quer sair e odeia viver na Terra do Nunca e ser Peter Pan. Cada etapa a seu tempo, ou todas de uma só vez.
Então, ela percebe que chega a hora de voltar a ser a menina jornalista / economista que corre contra o tempo para cumprir a agenda que – literalmente - carrega sua vida (e que não tirem essa agenda sob pena de morte, a dela, é claro). Quanto ao Nunca, esse fica como um lugar a ser repensado. Algumas coisas entraram para a lista daquilo que já é uma possibilidade, mas sem se esquecer daquilo que já lhe pertence. Separar o mundo real do imaginário é algo muito difícil para ser imposto numa vida tão flexível. Por mais que novos caminhos sejam traçados, a visita dos inesperados não podem ser negada. Inesperados amigos, personagens, ‘eus’ que aparecerem.
O sino tocou. Dolly está latindo lá de sua casa. Géssica resolve chamar Tarsila para voltarem mais uma vez ao Nunca e se divertirem com seus fantasmas. Ela sabe que não está mais sozinha e sente de volta seu ‘eu’ original, o que sempre esteve presente, mesmo não estando aqui no real.
“Qual o seu nome? Ele perguntou”. Géssica, ela disse, sentindo-se de volta.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhna_lLcDTQsVnaQ1iVvky7rDVbn1tX-5hmXqGT72_q-DFJV0XHdicElmTIofDK_fKmQgANx0hcuYhGtmxs29POiPQV1S5xMPBSN3lsae5-L23NbA1XHRgx6TiuKEh2bAHDQCoGwkzFZa3N/s400/%25PG%25201438.jpg)
James Matthew Barrie foi jornalista, escritor e dramaturgo de histórias infantis. Peter Pan surgiu pela primeira vez em O menino que não queria crescer, criado na década de 10 do século XX. Sua principal característica possibilitou interpretações do comportamento humano, como a síndrome de Peter Pan, que justifica a fixação pela infância.
Acabei de fazer uma viagem ...Existe uma criança dentro de nós!!!!
ResponderExcluirVamos dar uma voltinha sempre no Nunca né!! rsrs
ok
ResponderExcluireu li esse post
e simplesmente
morri de inveja da geh
qro um post
tão lindo qnt esse pra mim
kkk
ofercida nda :p