quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aplausos a Cisne Negro

"I had the craziest dream last night... about a girl who's turned into a swan" - Black Swan.


Este texto reflete as divagações sobre alguém que viu o filme, gostou, e comentou tópicos importantes sobre o roteiro. Portanto, se você leitor, ainda não teve a chance de ver o filme, imploro que: 1) ou vá ao cinema para ter o grande prazer de tal obra; 2) tenha a consciência da presença de spoilers ao longo do texto.

Não tinha pensado que ouvir a tão conhecida Swan Lake de Tchaikovsky me tomaria quase o coração do peito. Pode ter certeza que só de ouvi-la já é um tanto quanto emocionante e o modo como você a ouve é o que dá essas nuances: ouvir uma pessoa tocando pelo próprio instrumento à sua frente ou numa apresentação de uma orquestra; um trailer de um filme... todas as opções têm como consequencia comum, no mínimo, o arrepio. é o momento que você sabe (e mais ainda, o compositor sabia) que a música definitivamente entra dentro de você e transforma, de modo positivo, suas percepções, afinando-as. Já num filme, e estamos falando de O FILME, esse efeito tem o benefício da agregação da imagem o que ajuda a multiplicar, exponenciar o efeito da já citada percepção. 



Faz cinco dias que saí da sala de cinema em êxtase. O coração batia descompassado e um silêncio geral invadia as pessoas que também compartilharam do prévio momento. Faz cinco dias que, então, fico procurando palavras para tentar traduzir imagem e música. Hoje, acabei não resistindo e fui novamente ao cinema sentir aquilo de novo, muito mais que uma droga, quase um vício estantâneo: pela atriz, pelos atores, pelo diretor, pelo compositor da trilha sonora, pelo autor original que compôs a trilha sonora que ajudou o compositor a permorfá-la, enfim... movido por todos esses diferentes estágios de "vício" para cada uma das categorias. 

E é incrível quando você alimenta expectativas sobre algo e esse algo está tão acima do esperado. Fica num nível que nós, meros amantes espectadores dessa arte, sentimo-nos, ao menos, menos privados de uma sabedoria em se pensar roteiros ou tentar adivinhar ou seduzir-nos com o que acontece logo depois. Assistir ao último filme de Darren Aronofsky, Cisne Negro (Black Swan) é submeter-se, antes de tudo, à uma experiência de cinema (e quando uso a palavra cinema, refiro-me ao que se produz hoje em dia e que realmente pode-se chamar de cinema de qualidade); uma experiência que fará não apenas os sentidos se deslocarem de seu prumo, mas o conhecimento, não como um dos sete sentidos, mas tal qual um dos mais importantes, é o que mais se move. 

E fiquei pensando em todas as coisas que poderia dizer, todos os elogios rasgados para a atuação impecável de uma Natalie Portman magra com menos dez quilos ainda. Elogios a um trabalho de uma equipe que editou, mixou, produziu e dirigiu o filme de tal forma que ele não acabasse com os últimos aplausos à Nina Sayers, mas que continuasse na memória de cada um por muito mais tempo. 

Sobre o roteiro de Black Swan, temos Nina Sayers, interpretada por Natalie Portman (Entre Irmãos, recentemente descrito no blog), uma bailarina que busca a perfeição em cada um de seus movimentos. Sua mãe, interpretada por Barbara Hershey (Hannah e Suas Irmãs) é uma espécie de açúcar proibido a um diabético, pois ela alimenta Nina com seus pequenos mimos. Mimos de uma ex-bailarina frustrada que quer espelhar na filha o que ele nunca alcançou em sua curta carreira nos palcos. Essa relação amorosa e quase doentia entre mãe e filha faz o açúcar ora caramelizar ora trasnformar-se em veneno e, como tal, torna a convivência e as pressões diárias perturbadoras.

Nina tem então a chance de, como bailarina, entrar para o espetáculo de balé O Lago dos Cisnes que será duplamente interpretado por ela, tanto o Cisne Branco quanto o Negro. O único porém é que sua busca pela perfeição de movimentos e uma pressão vinda de casa apenas a habilitava a um Cisne Branco, que se encarregava de toda a doçura e delicadeza inerentes à Nina; Seu desafio, encontrar em si e viver em completude o Cisne Negro que ela desconhecia.

Ao mesmo tempo em que o tão cobiçado papel é conquistado, Nina ganha "inimigos" e num mundo de tanta cobiça e tantos sonhos, a convivência pode se tornar doentia. E a doença pode não ser apenas no próprio corpo, mas pode estar também no corpo ao lado, no corpo quase deformado de cada bailarina que quer aquilo tanto quanto aquele que a tem. Nesse grupo, encontram-se Winona Ryder, a little princess do diretor de teatro Thomas (Vincet Cassel) que sente, literalmente, a traição do corpo contra sua profissão; e Mila Kunis, que interpreta Lily, um alter-ego cheio de sedução e quase o perfeito Cisne Negro que Nina mal  consegue passar de um tom cinza. Cada movimento, cada passo que o corpo toma e dá, tudo parece estar tão longe e tão perto. O corpo de Nina e o corpo de Lily. Dois corpos separados ou dois corpos num só? O branco e o negro ou branco e negro num só? 

As tormentas de Nina tomam rumos agonizantes que evoluem conforme sua busca pelo negro dentro de si cresce. A ave e fera que procuram escapar de sua armadura rasgam aos poucos esse tecido e escapam pelos poros do corpo. Aos poucos, as cores vão se modificando, a música de Tchaikovsky vai se tornando tal qual o espetáculo, extremamente visceral. Os corações de todos estão a mil e para que um viva, o outro deve morrer. Sem mais delongas, mas cheio de vontades de não parar de ouvir Swan Lake ou poder rever o filme, termino essas divagações à meia-noite tomando as últimas palavras de Nina e aplicando-as como minha opinião sobre este muito mais que um filme: "it was perfect" - foi perfeito!   



4 comentários:

  1. Assisti ontem, Fernando! É perfeito mesmo. E você continua poético, como sempre.
    Ps: Eu vi o tweet sobre o filme do Woody. Assisti "Whatever works" e "You will meet a tall dark strange", o primeiro eu gostei bastante.
    O segundo é no estilo Melinda e Melinda, e com narração em off que eu não acho agradável, mas ok. Haha.
    Vou gravar os filmes que eu baixei em dvd e quero saber depois o comentário do último do Woody.

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  2. Lendo suas palavras reassisti cenas do filme e revivi a história, que foi sem dúvidas mais que bela. A densidade, a pluralidade... poderíamos explaná-las e explorá-las por mais um bom tempo que ainda assim, seria pouco para descrever ou mesmo sacar todas suas nuances. No momento só posso dizer que foi lindo... e aqui dentro continua sendo.

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  3. Também me deparei com a mesma dificuldade em achar palavras exatas para falar de Cisne Negro. Depois de uma semana, postei um comentário. Mas perdi o desafio. É impossivel escrever algo que esteja ao nível do filme. Resta-nos apenas torcer para que de fato o texto incentive o leitor a entregar-se a essa experiência devastodora.

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  4. Delicia esse filme e essa musica nao sai da cabeça. Me errepia ouvir.
    Ameiii teu blog e vou te seguir!
    Visita o meu tb!!!!

    Beijao

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