domingo, 31 de maio de 2009

Cuiabá está entre as cidades escolhidas para a copa do mundo de 2014

por Fernando Gil Paiva

A FIFA anunciou o grupo das 12 cidades que serão sub-sedes para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. O presidente da FIFA Joseph Blatter, começou o pronunciamento às 14h30 (Horário de Cuiabá) e em ordem alfabético disse os nomes.

O estádio Verdão (Governador José Fragelli) será demolido até o fim do ano. Depois, as obras do novo estádio começam conforme projeto que acomodará 48.453 pessoas e terá vagas para mais de 3.000 veículos. Cuiabá tem aproximadamente 540.000 habitantes e será a representante oficial do Pantanal no Brasil. Além do novo estádio, outros projetos como melhorias no trânsito, projetos de metrô, ampliação do aeroporto estão previstos.

Verdão reconstruido

E as cidades são: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Prepare-se!

Cuiaba has been chosen to be one of the cities to represent Brazil in the World Cup 2014

by Fernando Gil Paiva


FIFA announced the group of 12 host cities for the World Cup 2014 in Brazil.
FIFA’s president, Joseph Blatter, started saying at 2h30 p.m. (Cuiaba, local time) and in alphabetical order, he said the names.

Verdão Stadium or “Governador José Fragelli Stadium” will be demolished until the end of this year. Then, the building of the new stadium will start according to the project. When the new Verdão is done it’ll be able to receive 48,453 guests and 3,000 places in the parking lot. Cuiabá has, today, about 540,000 inhabitants and is going to be the official representative from Pantanal. Besides, projects like the new changes and improvements in the local traffic, subway projects, enlargement of the international airport are also included in the whole program.

Verdão rebuilt

And the cities are: Belo Horizonte, Brasilia, Cuiaba, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador and Sao Paulo.

Prepare yourself!

sábado, 30 de maio de 2009

Formiga em traje de marinheiro

por Fernando Gil Paiva

Tem gente que acha legal matar passarinho, eu nunca matei. Matar sapo, matar lagarto, o simples prazer de ver a vida se despedindo do bicho sem a noção do que é a vida se despedindo do bicho. Tá certo que nunca matei essas criaturas maiores, nem tive muitas pretensões felicianas [ refiro-me à Felícia, do Tiny Toon], mas tive muita imaginação com formigas.

Não foi o simples prazer da aventura da captura. Quando eu tinha uns 11 anos, no quintal da minha casa tinham umas formigas bem generosas em tamanho e ficava muito fácil pegar. Elas iam se acumulando no vidro de palmito durante algum tempo até que eu decidia que estava na hora de ir para a etapa dos origamis.
Eu fazia um ou dois barcos de papel. Preparava uma bacia com água e montava a prévia de uma catástrofe para elas. O barco ia ao mar. E os passageiros eram colocados em seus aposentos. Rondavam o território enquanto eu fazia ondas na bacia e o papel ia molhando. “E de repente, no meio da tempestade, um raio caiu no navio e uma fumaça começou a ser vista pela tripulação”. Não muito tempo depois o barco estava em chamas e o socorro parecia não chegar. Mas logo depois eu chegaria. Tinha que ter emoção.

“Atenção, formigas ao mar! Formigas ao mar!” E chegava outro barco para resgatá-las. Algumas iam afundando e, para essas, uma corda especial chegava até o fundo do oceano e fazia a captura. Depois de um tempo fora da água voltavam a respirar. Quando a brincadeira terminava, eu guardava as que mereciam de volta no vidro. As mais ansiosas já tinham morrido na hora do fogo e as que eu tinha mais dó acabava soltando, mas não eram muitas não.

Outro dia era outro acidente, na água ou fora dela. Mas as formigas sempre foram boas protagonistas para minhas histórias. Elas e minha coleção de Lego®, que deixo para falar depois.

Sailor clothing for ants to die

por Fernando Gil Paiva

Some people like to kill birds, I’ve never killed. Killing toads, killing lizards, the simple pleasure of watching a life saying good bye to the animal’s body without having consideration about what is to say good bye to the body. It’s ok, I’ve never killed these bigger creatures, and I neither had Elmyra Duff claims, but I had too much imagination with ants.

It wasn’t just the feeling of haunting. When I was eleven, in the backyard of my house there were some really really big-sized ants. This feature use to make things easier when I had to catch them. They started gathering in a “canned food bottle” until I decided that was the time to make some origami.
I use to make one or two paper boats. I use to prepare a big bowl full of water and then, the creation of a previous catastrophe. The boat was in the sea. The passengers, I put them in their places. They rounded the edged place while I was making waves to wet the paper. “Out of the blue, in the middle of a storm, a thunder fell in the boat and a smoke started being seen by the crew”. A little bit later, the boat was on fire and the SOS didn’t seam to arrive. As soon as possible I would be there. It must had the emotion.

“Attention, ants in the sea! Ants in the sea!” And then another boat arrived to rescue them. For the ones that have sunk, there was a thin line to go to the deepest parts of that ocean to do the capture. After a while out of the water, they re-breathed. After playing tricks, I put them back in the bottle, but only the ones that deserved. The most anxious have already died when the fire consumed the paper. If I fell in love with them, I’d just promise to be true, and help them to run away...
(But a small amount).

Tomorrow would be another accident, in or out of the water. The ants were always my best leading players, actors and actresses. They and my Lego® collection, that I’ll talk about in the future.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

50 / 50

por Fernando Gil Paiva

A proporção é clara. Metade / metade.

Dois meios que completam e formam um inteiro. Lados diferentes, tipos diferentes, ingredientes, composições, costumes... e depois disso uma ligação. Uma união de duas fitas de DNA que se combinam em uma só. Fica até difícil dizer - hoje - onde termina uma e começa a outra. É mais fácil dizer que sou e somos cada um uma banda de moebius (abaixo), um ciclo sem distinção de que começa aqui ou termina ali. Um infinito que é limitado a uma pessoa.

Uma pessoa que pertence aos infinitos.
Minha metade brasileira, minha metade portuguesa.
A primeira amarela. A segunda vermelha. As duas verdes.

Se de uma tenho lembranças de histórias em uma roça, uma fazenda, a outra me lembra o moinho, a vila antiga. Se penso em um quibe com ovo, risole de milho verde, pastel de dinossauro da infância, lembro-me também das filhoses portuguesas, dos pães e das fatias douradas.

Se pergunto a uma "Como está?´", já na outra respondo ao "E depois?"...
Se vejo um retrato próximo e palpável numa, na outra são representações de uma metade muito desconhecida e impalpável. Metade tão perto, metade tão longe.

Cada tijolo que ergue o moinho também é um tijolo de barro brasileiro, se na casa da roça tem carpintaria portuguesa, lá estão os azulejos. As duas se tornam uma única morada, um ponto em comum para dois não tão mais extremos. Sei quem são os rostos e o que cada um deles representa. Imagino que sei, imagino o que sei. Quanto mais volta o tempo, mais fica apagada a memória intocada.

Sou um grande visitador do passado, um nostálgico. Não me contento com o que meu corpo limita, minha nostalgia é também para os passos dos outros, os outros caminhos, anos que antecediam sem saber da existência desse hoje.

O tracejado no mapa que marca o tesouro é não menos que um retorno. Um retorno de um passo que já foi dado. "Para onde vão os passos que ficam para trás?". Ficam na memória. Pode ser que fique na parte intocada, pode ser que se faça - mais do que nunca - tocável.

Sendo assim,
Metade de mim barco de papel, a outra metade claravela [sic] portuguesa. Um inteiro navegante.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Releituras Musicais

para Cinemas Audiovisuais
por Fernando Gil Paiva

Ano passado foi o grande momento para relembrar músicas das décadas de 70, 80, trazidas diretamente para os filmes de 2008. Foram dois os grandes destaques que marcaram e também inovaram a categoria "musical".
O primeiro deles foi o filme "Across The Universe", que de um modo muito bem montado encaixou as letras das músicas dos Beatles com as falas dos personagens, encaixando momentos, emoções e sensações. Os próprios protagonistas carregavam a honra dos nomes como Lucy e Jude. As músicas não apenas foram bons argumentos, mas os argumentos certos para as histórias que um dia foram contadas, para as gerações dos nossos pais, tios... e que hoje se veem sob uma nova vestimenta, mas com as mesmas palavras.


Hoje, é possível renascer, revisitar e reler o que há de tão intenso num nome que está longe de ficar sem um mínimo de foco - The Beatles.

Hoje, também é possível renascer, revisitar e reler ABBA sem necessariamente estar em uma festa de formatura ou ouvindo mais um remix the "Dancin' Queen" em algum lugar diferente. A notícia do musical baseado nas letras do grupo também veio para arrebatar bilheterias (e assim o fez em seu país de origem - a Inglaterra) e para trazer de volta músicas que a gente apenas dizia "já ouvi em algum lugar, não me lembro do nome, nem quem canta". Dá para saber também que foi de "Gimme, gimme, gimme" que a Madonna tirou o som inicial de "Hang Up". Bom, além de tudo isso, ainda tinha o elenco... ela é claro, Meryl Streep... e cantando! Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Clin Firth e outros também estavam no grupo. E como musical que é, assim se consagrou... com a história de um casamento, da descoberta do pai verdadeiro, dos momentos mãe e filha... O filme foi selado como um sucesso. E concordo, para ambos.


Amanda Seyfried, a voz de Honey, Honey!

Depois de The Beatles e o ABBA, imagina que o próximo será The Mamas and The Papas! Não, é só brincandeira, mas de um jeito interessante isso poderia voltar a se repetir.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Colcha de Retalhos = Pano Para Manga

por Fernando Gil Paiva

Esse é um assunto clássico que ronda as conversas familiares, de amigos, colegas de trabalho - a infância e as coisas que acreditamos que são verdade e que fazemos para que seja verdade.

Era comum imaginar muito além da verdade, pensar em respostas ou soluções para coisas que sequer sabíamos. O pior de tudo era achar que estávamos fazendo a coisa certa, mas na verdade, não era nada além de pura ingenuidade, boa ingenuidade.

Então, eu fiquei me lembrando de coisas engraçadas que aconteceram comigo, por conta desses "achismos"... A primeira nelas, não necessariamente na ordem: quando era criança minha mãe sempre me dizia que era bom e importante que eu comesse açúcar mascavo, mas acho que por algum tempo ela não soube porque eu nunca fui muito fã dele. O fato é que quando ela falava que eu ia comer o tal do açúcar mascavo, eu nunca entendia mascavo e sim, mascaDO! Daí já viu o que minha vasta imaginação não fazia... Igual aquelas pessoas que ficam pisando em uvas pra fazer vinho, ficava eu pensando no povo comendo açúcar, mascando açúcar. Depois eu descobri que era mascavo. Ufa!


A história do Egito.
Eu sempre achei muito legal tudo que é relacionado ao Egito. Eu ficava pensando em como seria visitar as pirâmides, andar em camelos. Infelizmente, pra mim era tudo um sonho muito distante já que eu nunca me via viajando de um planeta à outro porque eu achava que cada país era num planeta diferente. Não sei bem como eu cheguei a essa conclusão e nem porque eu só imaginava esse tipo de viagem desde que fosse para o Egito, especificamente. Bom, acho que deve ter sido pela paisagem e pela quantidade de areia. Mas hoje eu rio muito disso. Como pode, não?


Uma engraçada também foi mais ou menos nessa época dos cinco, seis anos. Eu inventei de comer o resto de um doce de caju que era vendido numa caixinha azul com uns desenhos amarelos (será que eram cajus desenhados?). Eram uns cubinhos cobertos de açúcar cristal que nem hesitei em comê-los. O que aconteceu depois foi que minha mãe achou a caixa vazia e viu que já tinha passado da validade. Assim como eu não hesitei, ela também não e quis que eu vomitasse o doce. Ela tentou com uma colher, mas não conseguiu. Eu não vomitei e nunca passei mal por causa do doce. Fiquei muito tempo sem comer esse doce de novo, e desde então acho que eu passei a olhar a validade das coisas.


Deixo a quarta história pra 'cor dos olhos'. Eu sempre fui condicionado a acreditar que a cor da verdura é igual a cor dos meus olhos. Tão certo como matemática. Se eu comesse alface ou qualquer coisa verde, olhos verdes eu teria. Quando eu comia beterraba ficava imaginando os olhos vermelhos nas fotos. Depois ficava me perguntando o que eu precisaria comer pra ter os olhos azuis. A coisa que me lembro é que eu ficava pensando como eu iria fazer pra comer uma nuvem. Ponto.


A mais absurda de todas ficou pro fim, claro! Sabe a história de: "caiu no chão, joga fora. Se der, lava"? Hoje até tem gente que se vale da regra dos três segundos, algumas usam a dos dez segundos para alguma coisa (e eu to falando de comida) que cai. Bom, esse episódio marco da minha vida aconteceu quando eu estava andando no quintal da minha casa, que numa certa tarde estava molhado porque tinham acabado de lavar. Eu estava andando com aquele pedaço de bolo de chocolate na mão, quando de repente... já sabe né? Até que não tinha ninguém olhando, mas eu resolvi fazer o que sempre me foi dito "caiu no chão, joga fora. Se der, lava". Será que dava pra lavar? Eu achei que sim. Fui no banheiro de casa e coloquei o bolo embaixo da água corrente. Coloquei o bolo na boca e joguei fora. Não tinha como lavar. Era pra ter jogado fora mesmo.


Acho que chega né. É pra rir mesmo de tanta ladainha numa só cabeça!
Rsrsrsrs...

domingo, 24 de maio de 2009

8 e 1/2 ---------> 9

por Fernando Gil Paiva

Em 1963, Federico Fellini inaugurava o filme "8 e 1/2".
Em 2009, Rob Marshall inaugura "9", com roteiro de Michael Tolkin e Anthony Minghella.
Para quem não viu o de Fellini, o nome já é uma própria referência ao diretor que havia dirigido seis longas metragens, 2 episódios de filmes e co-dirigido um outro filme, totalizando "oito e meio". A história retrata a crise de inspiração de Guido Anselmi diante da produção de um filme em que todas as pessoas, próximas e nem tão próximas assim parecem cobrá-lo de alguma forma. Com isso, ele mergulha em lembranças e viagens ao passado e ao futuro numa visitação à sua própria existência. O diretor era Marcello Mastroianni que se tornou eterno na figura de Guido. Quem também participou de "8 e 1/2" foi a bela de "Era Uma Vez no Oeste" Claudia Cardinale.


Marcello Mastroianni em "8 e 1/2"
Nesse ano, Rob Marshall (diretor de Chicago), cria uma extensão para o que foi feito há 46 anos num novo filme em que coloca o Guido Contini (antes Anselmi) diante da nova impossiblidade de lidar com suas inspirações ao estar no projeto de um musical. E falando em inspirações, o filme está cheia delas só por nos tornar admiravelmente afetados pelo elenco de gigantes. Daniel Day-Lewis (Sangue Negro) parece nos enganar com tamanha semelhança com Mastroianni, sem falar em Nicole Kidman, Marion Cotillard, Judi Dench, Kate Hudson, Penélope Cruz, Sophia Loren e Stacey Ferguson (sim, é a Fergie). Todos fazem parte dos mundos real e imaginário de Contini. Todos conspiram em sua trama.

Nove, de Rob Marshal, ainda não tem data de estréia.

Abaixo, link para o trailer do filme.
http://www.youtube.com/watch?v=BsQbYGKQi4E

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ai que vontade!
por Fernando Gil Paiva


Desde que o 62º Festival de Cannes começou, vários filmes entre “Los Abrazos Rotos” de Almodóvar, “Bastardos Inglórios” de Tarantino, “Anticristo” de Lars Von Trier, entre outros, passaram pelo público ávido por novidades. Hoje foi a vez do verde amarelo ser montado no palco da palma de ouro. Lembro da frase célebre de Fernando Pessoa que diz “Navegar é preciso, viver não é preciso”. E dessa frase, conecto o brasileiro de Heitor Dhalia na onda dourada que por lá está passando.

O filme “À Deriva” (que deixo o link para o trailer logo abaixo) conta a história da família perfeita que, numa tormenta, afunda deixando seus náufragos à procura dos bote salva-vidas mais próximos. O trailer já nos dá indícios da bela fotografia e das boas atuações de Débora Bloch, Laura Neiva, Camila Belle e do francês Vincent Cassel (Irreversível). Deixo à boas expectativas pelo conhecimento prévio da mente do diretor.

Vincent Cassel e Laura Neiva em "À Deriva"

Primeiro, pelo belo “Nina”, com Guta Stresser e a eterna Myriam Muniz que faz a dona Eulália com seu gato Tito e que sempre foi de uma precisão muito grande.

"Nina"

Depois com Selton Mello em “O Cheiro do Ralo”, navegando entre odores e bundas e em frases certeiras como: “ta vendo esse olho? era do meu pai”.

O Cheiro do Ralo

Aguardo o filme para dar sequencia aos mais de cinco minutos de aplausos dados hoje em sua exibição de estréia.

Nada como estar à deriva, precisamente navegando e vivendo.

Veja o trailer no link abaixo:

http://cinema.uol.com.br/ultnot/multi/2009/05/18/04023670E4992346.jhtm?trailer-do-filme-a-deriva-04023670E4992346

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Laços de Família Ao Entardecer
por Fernando Gil Paiva

"O marido repetiu-se a pergunta que, mesmo sob a sua inocência de frase cotidiana, inquietou-o: aonde vão? Via preocupado que sua mulher guiava a criança e temia que neste momento em que ambos estavam fora de seu alcance ela transmitisse a seu filho... mas o quê? "Catarina", pensou, "Catarina, esta criança ainda é inocente!" Em que momento é que a mãe, apertando uma criança, dava-lhe esta prisão de amor que se abateria para sempre sobre o futuro homem. Mais tarde seu filho, já homem, sozinho, estaria de pé diante desta mesma janela, batendo dedos nesta vidraça; preso. Obrigado a responder a um morto. Quem saberia jamais em que momento a mãe transferia ao filho a herança. E com que sombrio prazer. Agora mãe e filho compreendendo-se dentro do mistério partilhado. Depois ninguém saberia de que negras raízes se alimenta a liberdade de um homem. "Catarina", pensou com cólera, "a criança é inocente!" Tinham porém desaparecido pela praia. O mistério partilhado".
Trecho de "Laços de Família", de Clarice Lispector.

Anos atrás, ainda embebidas pelo suor da juventude, as alegrias dos futuros casamentos, da gota de álcool que escorria pelo lábio e as festas à noite à beira mar, as amigas - melhores - sondavam ainda o que seriam a partir de suas especulações.

Lila e Ann são contadas por meio da interposição de flash backs do passado com a atual condição de Ann no presente, que está em uma cama, desintegrando-se nela. Lembrar-se do passado, não era, entretanto, mater vivo o pássaro da memória, mas trazê-lo de volta para que se pudesse reanimá-lo. Cada ato negado, segredo selado, hesitação domada, atitude controlada, tudo parece tê-la direcionado ao abraço dos lençóis.

Claire Danes (Ann) e Mamie Gummer (Lila) em Ao Entardecer

Sob os cuidados das duas filhas, nos emaranhados laços de família, Ann reviveu os fragmentos das suas mais latentes memórias, principalmente as que rondavam Lila, que não tinha mais o contato de "melhor" e também de Harris, aquele que ela mesmo diz, todos amavam.

Mas o que eram os laços naquele momento senão uma linha esparramada que estava sendo enrolada ou o próprio desatar de seus nós para voltar a ser novelo?

Na manhã de domingo, minha filha!
ponha o laço cor-de rosa no cabelo
vista o vestido de festas
e olhe para a janela antes que as primeiras
ondas apaguem as mensagens da areia
prove as últimas balas de açúcar cande
como se fossem as últimas balas
corra na areia e sinta sua identidade
impressa. sem pressa.
e viva ou prolongue as boas sensações
os períodos bons que você assim considera
agradeça à felicidade clandestina
mas não se perca na clandestinidade
há mais areia em outras praias
como outros doces em outras balas
se for sair com vestidos novos
saia, apenas, com a certeza de que será
peremptório. e será sempre.

Vanessa Regdrave e Meryl Streep já estiveram juntas há muitos anos atrás (em 1977) quando Meryl gravava seu primeiro filme chamado "Julia", que também participava Jane Fonda. Em Julia, Meryl era Anne. Em "Ao Entardecer", Vanessa é Ann. Um belo laço de recordação. Os laços continuaram a ser dados, o pacote merecia a decoração à altura. Quando Ann relembra seus tempos antigos é Claire Danes quem a vive. Mamie Gummer vive a Lila de tempos passados. Outro laço. Mamie Gummer é filha de Meryl Streep. Lilas - mãe e filha, filha e mãe.

Meryl (Lila) e Vanessa (Ann) em Ao Entardecer


Mamie Gummer e sua mãe, Meryl Streep

Como mencionado, Ann, depois de ter se separado da convivência com a melhor amiga, teve duas filhas em seu casamento, representadas por Toni Collette e Natascha Richardson (que é filha de Vanessa Redgrave) - mãe e filha, filha e mãe. Na ficção, a filha vê e se prepara para a despedida da enfraquecida Ann, a mãe. Na vida real, sem qualquer preparação, a mãe se despediu da filha. Mas isso apenas deixo como boa memória à partida tão prévia de Natascha Richardson no mês de março após um acidente de esqui no Canadá. Laços de família. Passos na areia e a onda que vem, mas que não apaga. Ouço o som de reflexão, da fita que amarra... do nó que é terno. eterno.

Natascha e Vanessa, mãe e filha em Ao Entardecer

Natascha Richardson (1963-2008) e sua mãe, Vanessa Redgrave.

No link abaixo, trecho do filme em que Ann (Claire Danes/Vanessa Redgrave) canta no casamento de Lila (Mamie Gummer / Meryl Streep) a música "Time After Time". Tempo após tempo.

http://www.youtube.com/watch?v=CwDklR1LOL8

terça-feira, 19 de maio de 2009

A ÁRVORE DA VIDA

por Fernando Gil Paiva



Imagem do Filme "A Fonte da Vida", de Darren Aronofsky.

São poucos os casos em que se consegue dizer, veementemente, que já se viu 100% da obra de um autor. Já Mr. Joerke, “o subjetivo”, pode dizer isso, e eu apenas 50% em se tratando do diretor de cinema Terrence Malick, que em sua longa carreira produziu quatro pedaços de bom caminho.

Terra de Ninguém (1973), Cinzas no Paraíso (1978), Além da Linha Vermelha (1998) e O Novo Mundo (2005) foram seus quatro longas. Pode-se ver os grandes intervalos entre um e outro chegando a 20 anos. Os dois últimos, posso garantir, são – de modo sublime – tocantes. Mas já aviso que ser tocante é também fator de risco, pode se tocar pelo extremo acionário e / ou pelo extremo da calmaria. Segunda opção para Malick. Seus longos filmes, belas epopéias, tem a durabilidade que se traduz por um conhecimento coeso, também definido por seu novo trabalho, que ficará pronto em 2010, depois de cinco anos de pausa. O nome da nova obra - A ÁRVORE DA VIDA...

Então, falando de árvores da vida e árvores de vida, nada mais forte do que argumentar com sua vitalidade. Fui questionado sobre quem seria o ser vivo mais velho do planeta? Logo deduzi que não seria animal, mas sim, vegetal. Dois mil anos soaram muito para mim e eu logo me lembrei de uma árvore de Jerusalém que resiste desde tempos antes de Cristo.
Mas daí começaram a aparecer o que meu primo colocou como deuses – as árvores milenares que resistem de forma quase inacreditável. Então, esses dois mil anos só foram ficando cada vez mais jovens pertos das senhoras distintas de 5 mil, 7 mil e 9.550 anos! (Foto abaixo). A pequena notável, com tronco de 4 metros de altura, além das raízes intactas, soa até como piada quando dizemos que este é o exemplar mais longevo do planeta.

Mudanças climáticas bruscas, surpresas no tempo, testemunhos de civilizações e indivíduos, milhares deles, que sucumbiram a seus pés, às suas sombras num ocaso inesperado, numa ingenuidade e numa ignorância para com o ser que ali se encontrava. Vidas que ali cruzaram, olhares que hesitaram, intervalos de vistas, tempos de ausência, solidão, isolamento e resistência.

Há 9.550 anos, algo ocorreu e fez com que uma semente fosse sacrificada para dar origem ao seu fruto. A célula se fixou como vida e ficou. São poucos os casos em que se consegue dizer, veementemente, que já se viu 100% da obra de um autor. Pode-se ver uma árvore e ter a falsa consciência da completude, do absoluto. Não se vê nem 50% do que se é. A árvore sueca resiste na Terra de Ninguém, trocou suas cascas como uma cobra troca sua pele, ficou como Cinzas no Paraíso, paraíso de vitalidade. Nesses intervalos de tempo, soou como se não ousassem ultrapassar as linhas, não passaram Além da Linha Vermelha que a protegia de um golpe certeiro para a morte ou por fungo ou bactéria mortal. E a cada ato de renovação, o sentimento d’O Novo Mundo, um novo mundo para uma Árvore da Vida. Uma deusa, um deus.

domingo, 17 de maio de 2009

Meryl Streep
por Fernando Gil Paiva

Há muito tempo venho enrolando pra escrever esse post. Afinal, o motivo precisava de calma e inspiração. Falar da minha atriz preferida não é pouca coisa, nem coisa fácil. Eu não lembro ao certo quando começou, mas acho que a lembrança de ter visto Meryl Streep conscientemente foi em As Horas e Adaptação, ambos maravilhosos. Inconscientemente eu já tinha visto A morte lhe cai bem, Ela é o diabo e O rio selvagem que passaram algumas vezes na TV aberta durante a década de 90.

Depois passei a adaptar minhas horas para que eu pudesse conhecer mais aquilo que eu já gostava tanto. Era uma questão de tempo e de aprofundar admirações. Hoje já assisti 23 dos seus filmes. O fato é que é impossível não destacar seu talento e o modo como ela consegue ser tão real em suas caracterizações. Como a própria Meryl disse “Interpretar não tem a ver com ser alguém diferente. Trata-se de encontrar similaridades no que é aparentemente diferente e depois se encontrar nelas”.

E não apenas isso, não apenas encontrar-se nas aparentes diferenças, mas fazer com que o espectador também se encontre simultaneamente. Para começar, deixo aqui, três amostras de seu trabalho, partes que depois irão se remendando com o passar do tempo, afinal, um post é muito pouco pra falar de uma carreira que se estende por tanto tempo.

A ‘trilogia’ da escolha:

As pontes de Madison (1995)

Em as pontes de Madison, Francesca (Meryl) conhece o fotógrafo Robert da National Geographic (Clint Eastwood) quando seus filhos e o marido haviam ido a uma exposição anual em outra cidade por quatro dias. Nesse período em que Robert está fotografando pontes no condado de Madison, Francesca vê-se diante dos pesos de uma terrível balança. Ela tem que fazer sua escolha. A escolha de Francesa.


A escolha de Sofia (1982)

Alan J. Pakula, ao dirigir A Escolha de Sofia, talvez tenha colocado em evidência um dos impasses mais dramáticos que não há dúvidas que também tenha acontecido em algum momento com alguma Sofia. A história é narrada a partir de suas lembranças num campo de concentração alemã na segunda guerra mundial. Quem esteve com ela já não está mais, as escolhas tiveram que ser feitas independentemente.


Terapia do Amor (2005)

A terapeuta de família judia Lisa Metzger (Streep) tem uma paciente pós-divórcio e um filho pintor que tem uma nova namorada. Os conceitos e as aplicações de suas análises, entretanto, começam a se mostrar paradoxais quando se trata de casos intra e extra familiares. Lisa entra em pânico quando tem que decidir em aceitar o que prega como conceito cultural e religioso ou conceito ético e pragmático de sua profissão.


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Clássicos da sua Sessão
por Fernando Gil Paiva


Semana passada postei sobre o filme "Escritores da Liberdade", que é um filme bem recente e pouco conhecido, mas é o tipo que você vê, vê e não se cansa... Bom se mais filmes pudessem ter em sua fórmula a dose certa pra nos despertar essa vontade. Muitos filmes tem e acho que falar deles é um modo de lembrá-los ou de instigar a vontade de vê-los e revê-los.

No momento, fico com a admiração de Drew Barrymore e Brtitany Murphy, as adolescentes que 15 anos que ficam grávidas ao mesmo tempo e suas vidas mudam completamente com a chegada das crianças. O tema é sério - gravidez imprevisível, ainda mais em idade inesperada, mas o bom e engraçado está no modo como a própria inexperiência e ingenuidade. Motivos não faltam pra tanta admiração, elas são belas e belamente atuam. Tem uma história boa e é simples e profundo. Acho que muitos filmes poderiam pensar em ser mais assim também, agradável e admirável pelo simples.

Pra citar mais, é preciso de um segundo, terceiro, quarto posts, cada um com um desses momentos, Ah, e antes que eu me esqueça, o nome do filme... que pra quem viu já não é mais novidade. Pra constar então - Os garotos da minha vida, como minha indicação nostálgica da hora. Ver Drew é simplesmente mágico. Vê-la sorrir, chorar, ganhar e depois perder tudo, ter perspectivas e ter que postergá-las, estar à mercê do que a vida lhe preparara. Acho que convenci, a mim mesmo, pelo menos, a vê-lo mais uma vez, quem sabe amanhã ou depois, mês que vem... sem pressa, apenas apreciando o tempo sem tanta precisão.


terça-feira, 12 de maio de 2009

Testemunha Ocular

Virada Cultural - São Paulo / 2009
por Ariana Paiva

Sampa tirou o terno e a gravata para receber 4 milhões de pessoas com o lay-out tênis, jeans e camiseta. É a Virada Cultural 2009, 24 horas ininterruptas de atrações, apresentações circenses, shows, do rock ao brega, intervenções, festival de cinema, teatro e muito mais.
Sábado (02/05), 16:30, peguei a programação e fiquei extasiada com tanta coisa boa: Tom Zé, Arrigo Barnabé, Zeca Baleiro, Cordel do fogo encantado, Tutti Frutti, Maria Rita...nossa! Mas eu tinha que fazer escolhas, então resolvi começar com Arrigo Barnabé – Clara Crocodilo, fui pra fila do Teatro Municipal, centenas de pessoas na minha frente, depois de uns 40 minutos veio a notícia, teatro lotado, acabaram os ingressos, e agora? Ficar na fila para o próximo show? De jeito nenhum, com tanta coisa acontecendo, resolvi andar ali pelo centro.

Ao lado do Teatro Municipal, um mini espetáculo com participação do público. Parei, dancei, cantei com eles e segui para a Praça da República, palco do rock, show do Tutti Frutti, banda que Rita Lee já foi integrante, agora a vocalista é Sol Ribeiro, que com sua voz super gostosa não deixa nada a desejar, eles eletrizaram a galera com seus solos de guitarra e todos cantamos “ovelha negra” juntos. No ápice do show, a produção fez sinal para encerrar, e o público gritava: MAIS UM! MAIS UM! Era visível que os integrantes da banda queriam continuar, pois a proposta era tocar o álbum “Fruto Proibido” na íntegra, mas eles foram “empurrados” pra fora do palco, então a vocalista voltou correndo, pegou o microfone e gritou: “ELES NÃO DEIXAM!” Foi simplesmente hilário!

Depois de Tutti Frutti, fui em direção ao Viaduto do Chá, vi artistas acrobatas no prédio da prefeitura, apresentações musicais e artistas autônomos dando um show à parte, a festa estava linda! Todos andando tranquilamente, sem a paranóia da loucura da megalópole, com um único objetivo: curtir, desfrutar, vivenciar e se divertir!

Continuei andando, cheguei à Praça do Patriarca para assistir o espetáculo “Le Chant des Sirénes” do grupo Mecanic Vivant, é inacreditável o que estes franceses conseguem fazer com simples sirenes.
"Le Chant des Sirénes”, Foto de Ariana Paiva.

Depois disso, pra mudar um pouco o ritmo, fui direto para a tenda eletrônica, mas já estava ficando impossível andar, a cidade estava lotando.

Domingo, 8:45 da manhã, calçadas encharcadas, não, não choveu, era xixi mesmo, faltou banheiro e a equipe da limpeza não deu conta do recado. Ouvi um andarilho xingar: “- Hei...tão mijando na minha casa, pô! Seu bando de... *#&%$§**.” Não sei se era de rir...ou chorar.

O cheiro forte da urina era insuportável, lembrei de uma frase do Zen Budismo: ”Haja sem apego e sem aversão”. Então vamos lá... direto pra Av. São João pra não perder o “Cordel do fogo encantado.” Entrei no meio do povão (que aliás, de ontem pra hoje multiplicou), mirei o palco e fui, mal consegui sair do lugar, andei uns dez metros, mas faltava ainda uns cem, a cada passo eu ficava mais espremida, me senti como laranja prestes a virar suco. Saí do meio da muvuca e fui pra um lugar de onde eu via o palco de muuuuiiito longe, mas pelo menos dava pra dançar. E o show foi demais!!! Enquanto o Cordel animava os “servos dos loucos de Deus,” vários artistas acrobatas, bailarinos, voavam em guindastes sobre nossas cabeças.

Ao meu lado estavam meus amigos e também andarilhos, crianças, artesãos, gringos, pombos, cachorros, todos na mesma sintonia, e nesse momento que pra mim foram minutos mágicos, senti uma energia incrível de comunhão e paz com todos os seres habitantes desse planeta! Imersa nessa energia boa, meus amigos e eu fomos até a Praça Alfredo Issa, curtir um sambinha de raiz pra não esquecer as origens.

Meio-dia, hora de sair correndo, voltar pra Av. São João, ver Zeca Baleiro. Isso mesmo, os espetáculos não atrasavam nem um minuto e por isso...aff afff haja fôlego! Agora eu quase não via mais o palco e o corpinho começava dar os primeiros sinais de cansaço, pausa para recarregar as baterias, fui convidada a ir a um dos lugares mais visitados de São Paulo, entre a Ipiranga e a Av. São João tomar o famoso chopp do Bar Brahma. Tocavam lá três músicos da velha guarda com violino, acordeão e violão, eles cantavam (só no gogó), andando de mesa em mesa, e pra minha surpresa e dos meus amigos mineirinhos, a nossa foi presenteada com a música... “Oh Minas Gerais, Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais, Oh Minas Gerais!!!” O bar inteiro aplaudiu e este foi mais um dos momentos mágicos da Virada.

Da sacada do Bar Brahma, eu via o telão da Av. São João e que privilégio, assisti o show dos Novos Baianos ali mesmo, dava pra sentir a alegria de Baby e Pepeu no palco.


Bom, aqui está muito bom, mas, Maria Rita já deve estar no aquecimento, e esse eu quero assistir de pé, vamos lá, agora não existe diferença entre ruas e calçadas, todas borbulham de gente, pessoas se espremem nas janelas, marquises das lojas, monumentos e interagem com o evento.

18 horas de domingo, gritos, foguetes e aplausos pra receber Maria Rita, que sobe ao palco de vestidinho curto, dançando como uma bailarina faceira, e como ela mesmo prometeu... Rodou a baiana!!! Ela estava linda, irradiante, iluminada! Cantou a primeira música, parou e agradeceu à São Paulo, ao público, embargou a voz e o povo aplaudiu. Ela estava muito emocionada e eu arrepiava a cada palavra, parecia até que Elis estava ali.


É muito difícil transcrever o que aconteceu nesses dois dias mágicos, é a primeira vez que vejo quatro milhões de pessoas juntas em harmonia, pelo menos os dados confirmaram e nenhum caso grave foi registrado. A limpeza, sim, deixou a desejar e muito! Mas acredito que a prefeitura de São Paulo não deixará isso estragar a festa na próxima Virada.
P.S.: Parabéns pelo texto e que grande momento!! (Fernando =D )