domingo, 27 de setembro de 2009

+ loucuras com licensa poética

Micro contos de 124 caracteres...

micro inspirações... micro transpirações...


por Fernando Gil Paiva


O poeta perde a identidade na pegada de areia lavada pela onda. Desfaz-se o fiel coser entre areia da praia e água do mar.


Não sei escrever, mas tenho na memória cada verso do meu livro. Ele está aqui e para minha frustração sou meu único leitor.


Quando ele pensava em parar de escrever, sentia-se farto, transbordavam-lhe as palavras e já reiniciava o ato - da escrita.


Rezar na infância era como olhar para o céu estrelado, ou ler um livro de aventuras, era assim: "pai nosso cristais no céu".

sábado, 26 de setembro de 2009

Um dia caminhando nas pedras que bordavam a areia e a água do mar
por Fernando Gil Paiva

Engraçada e paradoxalmente equivocada a idéia de que um passo na areia
podia ser ao mesmo tempo a marca da identidade de alguém que passou
Ou a marca de uma identidade que será levada e lavada pela água em coser constante

Um homem alto e de meia idade intimamente focado em encontrar-se durante uma caminhada solitária
Pode ser tal qual um perder-se involuntário no falso caminho de pedras depositado por um antecessor andarilho cujas obstinações eram as mesmas deste que vai

O outro já vai longe, a enseada é longa, mas por uma razão não depositada à consciência desse homem, fica tudo muito bem guardado e escondido
Ele caminha à deriva, como se estivesse navegando. A pegada funda e forte é seu princípio de reconhecimento, afinal, o indivíduo, agora indistinto, perdeu-se no caminho

As pedras igualmente levadas e lavadas pela areia já cessaram o ponto da costura
A areia permanece, mas é única para cada passo que vai ou vem sem direções estabelecidas
A água permanece sem permanecer, guia-se na inconstância de cada segundo, deposita forças sem ter noção de tal ato e apaga leve ou forte o mais leve ou forte dos indivíduos que por ali passaram.

De repente pára e olha para frente e depois para trás
Não se sabe onde está, nem por que ali está
Estranha e engraçada a sensação da água puxando a areia que está embaixo dos pés
Antes mesmo da pegada que se formaria

A inconsciência do ser e do estar
Um sorriso, mas não se sabe por que sorri
E os olhos brilham e existe um regresso antes que a água o leve por completo
Engraçada e paradoxalmente equivocada a idéia de um passo na areia

Uma pedra reapareceu depois de uma onda pequena
Outro olhar se virou para tentar apanhá-la, saiu andando em sua direção
Caminhando, um dia caminhando nas pedras que bordavam a areia e a água do mar

domingo, 20 de setembro de 2009

Sentimentos

por Clélia Paiva Martins

Sentimentos rechaçados, impactados, envoltos em nevoas que pareciam ser de rosas... de cores ou de amor...
Triste quando vemos que entre o amor e a falta dele encontram-se matizes de sofrimentos, estes recalcados de outros dias, ou quem sabe de alguém, que não tendo nada com o momento, deixa as relações se desintegrarem.

Pais , filhos, amigos e amantes...amores com tantos sofrimentos, pessoas com tantas dores, querendo atenção somente atenção, nada mais que atenção!!!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

+ historietas

FOI ASSIM QUE ACONTECEU
por Naiza Brito Garcia e colaboração de Fernando Gil Paiva


Joana era toda colorida. Segundo seus pais, no dia em que Joaninha nasceu, todas as borboletas da floresta haviam roubado as tintas das flores para pintar o seu corpinho.

Depois de três meses de vida, Joana já estava bem formada e já tinha garantido um belo par de asas. O casamento de seus pais já não andava lá essas coisas e como Joana já estava terminando o ensino fundamental seus pais acharam melhor se separar. Joana não achou tão ruim, já que a partir dali era teria duas casas. A casa de sua mãe ficava na trigésima quarta flor da laranjeira da esquina. A casa era toda perfumada e toda branquinha, apenas seu quarto era amarelinho. Já a casa de seu pai ficava no condomínio folhas da amora. Lá ela tinha muitos coleguinhas e por isso brincava muito quando ia passar as tardes com seu pai.

Sua brincadeira preferida era a gira-gira. Joana e seus coleguinhas passavam a tarde toda girando na roda do girassol desenhando caracol no ar.

Certo dia depois de dar 36.874 giros no girassol, Joana resolveu passear pela floresta. Ela então viu uma planta engraçada na beira do rio. Nunca tinha visto, mas achou demais e resolveu experimentar aquela planta maluca. Joana ficou ligada. A sua vista ficou vermelha e ouviu zumbidos na orelha. Aquela sensação era melhor do que sentira no dia em que batera seu recorde de giros no girassol (1 milhão de giros seguidos). Depois de ter passado o efeito, Joana foi para casa. Naquela noite não conseguiu dormir só pensando em quando voltaria no rio para comer mais daquela planta. Depois de alguns dias indo no rio, Joana passou a não voltar mais para casa. Toda vez que via seus pais, o encontro resultava em brigas. Suas bolinhas já não apareciam mais, suas cores estavam apagadas. Joana não sabia o que fazer.

Um dia, Joana, que já não tinha mais forças para andar, resolveu ir de ônibus até a beira do rio. A viagem era mais longa, mas assim, Joana poupava esforço. Depois de três minutos de viagem, entra no veículo um cara estranho. Ele usava o que parecia ser um uniforme azul e trazia grudada na barriga uma ponchete cheia de canetas. Cumprimentou algumas pessoas que logo responderam: “- Fala mano. Beleza Sapo Boi Azul?!”. Joana ficou observando o tal sapo que era um sapo muito diferente e se posicionou na frente do ônibus e começou a falar para todos que estavam sentados.

- Bom dia animais. Desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem. Agradeço a compreensão de todos. Mas estou aqui para contar a vocês minha história de vida. Meu nome é Sapo Boi Azul e sou um ex-viciado da plantinha da beira do rio. Eu fiz muitas coisas ruins na vida, perdi minha família e trabalho por causa das drogas. Mas agora encontrei o Rei da Selva e estou livre e estou aqui para falar isso para vocês. Eu poderia ta matando, ta roubando, ta seqüestrando sua mãe, mas estou aqui pedindo a colaboração de vocês para que este trabalho não pare aqui e que outros irmãos possam ser salvos. Só com a colaboração de um real por essa caneta você estará ajudando a casa de recuperação Beladona manter viva muitas famílias dos animais do canteiro dos polinizadores.

Aquelas palavras soaram como canto de Uirapuru e logo Joana percebeu que era essa a sua salvação.Ela ficou deslumbrada com cada palavra. Correu até o sapo e pediu que ele a levasse junto para aquela casa. O sapo pestanejou, mas levou Joana até a tal instituição. Durante o caminho até a tal casa, Joana ia sonhando com o dia que estaria curada. Pensava em sua mãe decorando a flor de laranjeira e o pai esperando-a para brincar.

Chegando à Instituição Beladona a joaninha levou um susto. Abriu a porta e viu vários arbustos. A toupeira, gerente da casa, dava uma festa para a floresta toda, não só o canteiro. Tava a preguiça, a pantera, o macaco, toda a galera. A hiena ria feito doida e a zebra já estava se vendo toda colorida. Joana não viu outra saída, com tantas plantinhas que tinha lá dava para ela ir parar no guinness book. Era planta da beira do rio, a tulipa, a papoula... Joana então cumprimentou a todos: “Olá, meu nome é Joana! Vim aqui para ficar curada”.

E responderam: “Olá, Maria Joana!” E todos ficaram apontando para Maria Joana e riram bastante. Ela então sentiu uma sensação muito diferente. Ela ria junto com todos, mas ao mesmo tempo ficou sentindo lá no fundo uma pontinha de vergonha e arrependimento. Ficaram chamando ela o tempo todo de Maria Joana, Maria Joana, Marijoana, Marijuana... Até que ela olhou bem para todos e viu que tinha sido enganada. O olho do Sapo Boi Azul foi ficando maior e ele tinha uma língua grande, bem grande. Foi quando Joana descobriu porque aquele sapo era tão estranho. O camaleão se camuflara para que todos fossem na festa da floresta e desse dinheiro para eles.

Joana então saiu de lá voando o mais rápido que pode. Voou muito tempo e quase dois minutos depois chegou perto da macieira, vizinha do condomínio das folhas de amora.
Depois daquela dia, Joana ficou de molho na água das folhas que acumulavam com o sereno, tomou água de chuva, respirou vento da asa do beija flor e a saudade tomou conta do seu coraçãozinho.

Ela, então, foi escondida de folha em folha e viu seu pai e sua mãe conversando juntos sobre a filha. Ela voou rápido em direção a eles e voltou a ter a vida de antes ora na casa da mãe, ora na casa do pai.

Brincar era o melhor remédio. Brincar ao lado de sua família era a cura. Tudo muito bonito, colorido e para sempre. Um dia Joana estava voando perto da beira do rio e o vento trouxe um grão de pólen colorido para perto dela...

+ palavras

de Cuiabá

por Fernando Gil Paiva

Depois de ter ganhado a obra "Leito do Acaso" da escritora Lucinda Nogueira Ramos que também é professora da Universidade Federal de Mato Grosso e vive em Cuiabá há muitos anos, resolvi que parte de uma Cuiabania deveria ser aqui relembrada, pois já fora por mim citada antes...

Repartir o açúcar

Não troco
o movimento organizado
das formigas
por qualquer outro de maior liberade
A meta da procissão é bem clara
vai atrás do que precisa
a metros de distância

(lugar que em mim é um pouco mais longe)

Sem pensar em mais nada
acompanho com redobrada frequência
o fluxo de difícil contabilidade
lento como engarrafamento (ou funeral)

O que não se mede pela visão
deixo sem nome
mas espalho na terra e adoro
porque é o Senhor
que trabalha no meu destino
e ensina a repartir o açúcar
com quem tem fome.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Patrick Swayze

See ya, ol' ghost
by Fernando Gil Paiva

Sam Wheat: It's amazing, Molly. The love inside, you take it with you. See ya.
Molly: See ya. Bye.

Now wonder how Patrick Swayze could easily become his own ghost at 57.
And some of the stories are from present ghosts, the ones who keeps the memory alive.
Who will dare to say "I never saw" or "heard about"...? Because ain't no song like that in that movie, or sentence like this. Now it's a sentence, with a deadline in a dead end.

The scenes just came up on my mind as if I've just seen it once more.
Oda Mae struggling unreasonably against something that she wasn't allowing herself to see.
But then, there was no way to change what was done... He became a ghost, he becomes a ghost.

It's easier when you have to transcend this thin edge. Maybe easier when you already are the eternal ghost of miryads of people.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

exercícios da disciplina Redação III, do curso de Jornalismo UFMT

Notas de Coluna

por Fernando Gil Paiva

Três notas de coluna de jornal. Pequenos textos que expressam alguma idéia. A opinião do autor é clara e ironia e humor não são dispensáveis.

Presos na Independência

Quem estava em Chapada dos Guimarães e resolveu voltar para Cuiabá depois das 18h no dia sete de setembro enfrentou a paciência no trânsito parado. Os últimos 33 quilômetros do trajeto se resumiram a duas horas de lentidão e uma dose de motoristas desrespeitosos depois de um acidente com três carros. No dia do feriado da Independência, nada melhor do que se sentir preso, truncado, por algo que você não foi responsável, ou seja, pela irresponsabilidade dos outros.

Caminho do lixo

Não precisa de muito tempo nem de andar muito para que qualquer pessoa em Cuiabá comece a ver lixo, de todas as espécies, jogado no chão: papéis, garrafas plásticas, bitucas de cigarro e assim por diante. Para maior comodidade, nada melhor do que o simples ato do abrir de mãos que se livra do objeto. Não é bem assim, a mesma mão cômoda que tem o desapego com o lixo, se apega ao lixo que cresce em si pelos excessos da ignorância.

Maratona

Ontem derretemos todos. E assim temos derretido todos os dias. Tudo bem que algumas chuvas caíram, mas logo depois já estava tudo igual. Então, é tal qual uma maratona em que se corre, corre, corre... E, de vez em quando, alguém que está assistindo, joga um copo ou uma garrafa de água para hidratar o corpo. Estou em dúvida se a maratona está mais intensa que o normal ou se tem poucos expectadores para nos lançar a água do alívio.