quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Escafandro e a Borboleta

por Fernando Gil Paiva


Chega em DVD o novo clássico "O Escafandro e a Borboleta", de direção de Julian Schnabel.
Escafandro não é só bom, mas é diferente e tem uma nuância lírica muito diferente de outros filmes. São poucos os que conseguem fazer com que o espectador esteja realmente dentro de seu personagem chave e, se ainda não viu, acredite ou não, você fica dentro dele!
O filme é baseado na história do editor da revista Elle francesa, Jean-Dominique Bauby.
O grande drama se resume a ver - sob o ponto de vista de Bauby - o que/ e como se pode viver após um devastador derrame que lhe dá apenas o piscar do olho esquerdo como único meio de comunicação dele para com qualquer pessoa ou elemento externo.
E não apenas isso, é através de seus olhos que conhecemos a vida incrível e incrivelmente bela do editor, que é narrada por ele mesmo. Como feito final, ele consegue escrever seu livro, mas não em um piscar de olhos, em milhares de piscar de olhos. Uma obra de calma, paciência e de muita intenção (para ele que se comunicou e para quem arduamente o interpretou). Vale a pena pela beleza e por ser tão simétrico quanto uma lei áurea.

Poster do Filme

Aviso aos desapercebidos

por Fernando Gil Paiva

Sem querer fugir da seriedade da eminência de uma pandemia... Um aviso de um aeroporto no Japão não soube ao certo para qual público direcionar sua mensagem de aviso da gripe suína - fosse para o espanhol ou para o inglês. Então, por que não um pouco dos dois?

Imagem retirada de UOL imagens do dia.

terça-feira, 28 de abril de 2009

por Fernando Gil Paiva
SER

De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo. Olho o ovo com um só olhar. Ime­dia­ta­men­te percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver um ovo nunca se mantém no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto um ovo há três milênios. — No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. — Só vê o ovo quem já o tiver visto. — Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. — Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. — Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. — Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. — O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.

(Trecho da Crônica O ovo e a galinha de Clarice Lispector).
PENSAR

“O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo

O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda”

Versos de Cérebro Eletrônico, música escrita por Gilberto Gil.

AGIR

"...se antes de cada acto nosso, nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar".

(José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

As vidas após o desperdício

por Fernando Gil Paiva

O texto que segue trata-se de um editorial para uma suposta revista que tem como capa a reportagem: As vidas após o desperdício.

A informação de que a humanidade sempre esteve em meio aos seus próprios desperdícios nunca foi uma coisa assustadora para as pessoas. Razão disso é que a maioria de nós jamais irá ver todo esse lixo formando montanhas e rios de líquidos e materiais pútridos. Só no Brasil, 240 toneladas são produzidas por dia. Isso é um prato cheio para as famílias da ilha das Flores lá no Rio Grande do Sul, na Boca de Lixo em São Gonçalo (RJ) ou em qualquer outro lixão do Brasil onde tenha uma família que desses meios se mantém.

A primeira razão é que famílias que se alimentam do lixo não precisariam, na prática, ter que esperar que a comida fosse jogada fora e depois para suas bocas; A segunda vem de dados do Instituto Akatu, que mostra que 1/3 (um terço) de tudo que se compra vai direto o lixo. Qual o preço do preço do financiamento dos lixões? Parte significativa do bolso de cada um.

Mas esse ciclo de ações não fica restrito apenas a perder seu dinheiro, formar pessoas mais conscientes, difundir novas práticas de reciclagem, mas também reduzir o desmatamento pela menor produção de lixo e gerar novas fontes de renda e oportunidades.

Jurema é moradora da Boca de Lixo de São Gonçalo e um de seus sonhos é ter doze filhos. Ela já tem sete. No documentário homônimo ao lugar, o diretor Eduardo Coutinho mostra o que a maioria de nós nunca irá ver – a estreita ligação do lixo com a vida de seus dependentes. Na reportagem de capa, que fala sobre as vidas após o desperdício, o lixo vira banquete e algoz – é a mão que leva o alimento e a que dá o tapa na cara da sociedade cega. Nas páginas que seguem, abra os olhos para que essa mão não chegue até você.

Jurema, à direita.

domingo, 26 de abril de 2009

Um metro e vinte de pernas!

por Fernando Gil Paiva
Uma policial grávida caminha em direção a um carro que horas atrás havia capotado na lateral de uma rodovia parcialmente coberta de neve. Ela se curva para olhar dentro dele e aí começa a investigação de alguns assassinatos. Frances McDormand, a mulher descrita, pode não ser a portadora das longas pernas, mas talvez esteja lá por causa de alguém que as tem. E esse nome, na verdade, vem em duplicidade – Coen. Joel e Ethan Coen. E com eles a máxima conhecida: a mentira tem pernas curtas.

Muitos já foram condenados friamente por sustentar mentiras por muito tempo. A inquisição queimou milhares. Os tribunais condenam outros tantos por falsos testemunhos, outros são consagrados pela omissão da verdade, outros, por induzir à mentira. Não que isso seja ruim, de modo algum, a mentira consagrada é tal qual uma breve cegueira branca, a do Saramago mesmo. Se ela for igual à da história, uma hora passa e depois tudo volta ao normal e no fim das contas isso até nos ajudou a ver as coisas de um modo diferente.

Pois bem, voltando aos Coen, esses dois irmãos – escritores e diretores – quiseram dar uma prévia do que era seu talento, antes de fazer O grande Lebowski (1998), E aí, meu irmão, cadê você? (2000) e Onde os Fracos Não tem Vez (2007) contando uma história chegada às aproximações do público por ser baseada em fatos reais. Há que se convir que o telespectador já concede alguns pontos apenas por esse fator, senão, o mínimo é começar assisti-lo com um olhar diferenciado.

Quem morreu no carro capotado fazia parte de uma bola de neve que já estava rolando desde uns dias atrás na história. Fargo, a cidade e também o nome do filme, é o lugar de origem da idéia que William H. Macy tenta emplacar quando decide forjar um seqüestro. O desenvolver dessa história é o que move o fascínio que segue. O revendedor de carros interpretado por Macy tem que se virar muito bem pra esconder suas mentiras sob um estado coberto de neve (Minesota) que, por sinal, fica facilmente manchada por sangue logo que tem a oportunidade.

As agulhas dos Coen vão tecendo, tecendo, firmando cada personagem desde o seqüestrado, os autores da ação e também os que participam voluntária ou involuntariamente da bola de neve ou seria bola de mentiras? Bom, falar de Fargo é falar de uma boa história. E que história! Pois faz qualquer um ficar se repetindo durante o filme: Como? Como? Como? Como? Sem falar naquela mesma frase inicial se repetindo: “Esta é uma história real. Os eventos descritos no filme ocorreram em Minesota em 1987. A pedido dos sobreviventes, os nomes foram trocados. Por respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu”. Que filme!

É por isso que algumas mentiras conduzidas são louváveis. Graças aos Coen, à Frances, ao William e também aos outros atores, pode-se inserir numa ficção de alto estilo. Uma daquelas que faz você continuar se questionando Como? por mais um bom tempo. E daí se nos fizeram crer que essa história era verdade? Quantos outros hoje contam coisas piores? Uma cegueira dessas não tem preço! O mais interessante é que os Coen também não fizeram questão de fazer com que as pessoas tivessem apego ao detalhe, mantiveram suas longas pernas bem escondidas, mas até mesmo as mais longas acabam por aparecer atrás da roupa que deslizou e se deixou mostrar.

Para quem viu o filme e tentou analisar cada passo da história de Fargo ficou a ver navios, depois à deriva, depois a contemplação. “Se a platéia acredita que o filme é baseado em um fato real, dá a você a permissão para fazer coisas que de outro modo não aceitaria”, disse Joel em um momento após o filme ser descoberto. Quando você entra numa sala de cinema, concorda que vai para ver algo que é fictício, por mais que tente ao máximo representar o real. Se objetos ou palavras de ludibrio tentam vetar seu argumento, então você também aceita e admira o fato de alguém ser tão ousado por tentar enganá-lo mais de uma vez e conseguir fazê-lo.

Algumas verdades são melhores escondidas.

Fargo (1996)

sábado, 25 de abril de 2009

Ladies Fake (Ladies Falsas)
por Fernando Gil Paiva

"O cego ergueu a mão diante dos olhos, moveu-as, Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite, Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco..."*

As velhas senhoras, em sua concepção, mesmo tendo os olhos perfeitos e a expresão do entendimento e surpresa por algo visto, jamais puderam ou poderiam ser providas da visão e muito menos da cegueira, fosse negra ou fosse branca. Os olhos não viam, o cérebro não via.

E quanto a nós que as vemos? Vemos com nossos olhos ou vemos com nossos cérebros? E o que pode ser por nós interpretados como verdade?
As senhoras, isoladas e sozinhas, no não-ser vivem pelos olhos dos outros, não pelos seus.
"Veja como olham!", disse a da esquerda. A que a olhava querendo tocá-la.
"Está bem menor, não?" "Parece que sim" respondeu em atenção.
Mas é como se fosse verdade. Não deixa de ser. É a verdade delas.

Nós que as vemos agora as compreendemos.




Esculturas super reais de Ron Mueck, nascido na Inglaterra em 1958.
E muitos ainda creem em tudo que os olhos vêem...
*Trecho de "Ensaio Sobre a Cegueira" de José Saramago.

quinta-feira, 23 de abril de 2009


Não foi de hoje que esse anúncio de sustentabilidade conseguiu me desestabilizar e fazer refletir.

Para quem ainda não teve a oportunidade de ver essa inquietante produção do Instituo Akatu, não perca mais tempo e nem mesmo sua consciência.

O site, abaixo, oferece maiores informações sobre a campanha contra o desperdício.


E, mais abaixo, o link para o vídeo produzido pelo Instituto.

Site - Portal ODM, Biblioteca Multimídia Vídeos.


Obrigado!
Fernando Gil Paiva

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre funções e suas interpretações

por Fernando Gil Paiva

O trecho que segue é o relato, análise e contemplação dos atos de efeito de dois seres que tinham e ainda tem o hábito de supressão de verdades por um vasto tempo de suas vidas. A falta de consistência é o reflexo das múltiplas anulações daquilo que foram como indivíuos colaborativos de seu universo em questão.
Cabe ao tempo designar e distribuir funções para as pessoas durante suas existências. Vários são os fatores que as levam a “receber” essas tarefas e missões. Certas coisas podem ser inclusas no grupo das funções de obrigação – como uma mãe que tem a responsabilidade para com a vida de seu filho; outras são as funções de inerência – em algum momento da vida, [você], como uma enzima, tem a perfeita propriedade de se encaixar no substrato em que se encontra, e a tarefa é feita pelo simples fato de que, por natureza, você é inseparável da coisa envolvida; por último tem-se a mais complexa, aquela que pode ser negada, a chamada função absens* (ausente por escolha, não por destino).
Muitos são os que por razões julgáveis revestem-se desta para justificar parte daquilo em sua vida que não foi perpetuado. A grande cilada dessa última classe é que para um ato negado a outrem, tem-se um ato negado a si, pois a função foi anulada bem como parte do curso próprio da vida deste ser.
Então, imaginemos um indivíduo, ou melhor, indivíduos que, despreocupados com esse fator, acostumaram-se de modo relapso a optar pela facilidade do mesmo. Some-se quase três décadas e meia de pequenos atos enquadrados na absens. Como consequência, tem-se indivíduos consumidos por algo que eles nem mais são capazes de reconhecer, tamanha está a ausência.
Agora – atribua essa condição à mãe e ao pai, ambos adeptos da prática. É por isso que aquele certo indivíduo que chega ao quarto e os vê isolados está também paralisado, pois o que ele vê, dissociado de algo conhecido anteriormente, é realmente a descrição do nulo – a de carne e rugas – perdidos em algum estado de exaustão e imissíveis na propriedade de interação com o mundo.
Os pontos não se tocam. Eles nunca se tocam. Suas funções estão esgotadas por aquilo que eles próprios criaram e inseriram em suas vidas. O que é, então, o resultado da prática de cada ser humano menos a conta de suas negações sejam por opções ou maiores obstáculos? Qual o preço de uma negação diante de um repleto caminho de possibilidades palpáveis? Quanto cada um está disposto a se ausentar em prol de um passo mais ligeiro no caminho que deve ser corrido devagar? Talvez os seres acima descritos não tenham sabido, talvez a grande questão de tudo é ter a capacidade de discernimento desse complexo e inconsciente - não, ou sim revestido.
*Absens - do Latim, ausente.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Piaf
No Baile do Acaso

por Fernando Gil Paiva


“Numa bela tarde de maio de 1945, eu estava sentada diante de um cálice de porto, num cabaré dos Champs-Élysées, com minha amiga Marianne Michel. Natural de Marselha, ela estreara com sucesso em Paris e buscava uma música que lhe desse projeção.

- Por que você não faz uma música para mim? – perguntou.
A melodia de “La vie en rose ” estava escrita e cantarolei para ela, que gostou e pediu que terminasse a canção – ainda sem letra e sem título.
- Combinado! – Exclamei. – E é pra já!
Ao dizer isso, peguei a centa e rabisquei os dois primeiros versos na toalha de papel:

Quand Il me prend dans ses bras,
Je vois lês choses em rose...

Marianne fez uma careta.
- Você gosta desse “as coisas” (choses)? Não fica melhor “a vida”?
- Boa idéia!... E o título vai ser “La vie em rose”... O título é seu. E corrigi:

Quand Il me prends dans ses bras,
Je vois la vie en rose...”
Trecho de “Piaf – No Baile do Acaso”, de Edith Piaf. Editora Martins Fontes.

A música que Piaf tão belamente escreveu foi recusada, recusada e recusada mais uma vez.
Ninguém aceitaria algo que iria ser lançado para não ser cantado por sua voz. Marianne Michel lançou a ‘La vie em rose’ que começou a ser largamente disseminada no mundo. Edith Piaf apenas cantou-a pela primeira vez dois anos depois de seu lançamento.

“Quando ele me toma em seus braços
Eu vejo a vida cor-de-rosa”

Assim, de modo quase casual, brotava da informalidade dos pequenos encontros, a erudição das palavras. Piaf derivou de sua vida um tanto inspiradora muitas e muitas canções que soariam no mundo todo, no topo do mundo. Como consequência justa e direta, nada mais que a eternização da face, das mãos e da voz que fervia e transbordava de vida e vontade de viver e cantar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A PARTILHA

por Fernado Gil Paiva



Três distintos pegaram suas

últimas pequenas memórias

cada um doou seu por cento

por certo de que daria um todo

uma por uma, lembrança

de partilha de ouro maleável

derreteu na brasa fina e consumiu

as últimas palavras de incineração


a primeira memória

era o cachorro sentado que deitou

na vida por intempérie

falta de intermédio, física

locomoção


a segunda memória

o apelo do diafragma

que ardeu lento

no riso solto da última, fala


logo a terceira!

tão depois de esperar

jogou seu último baralho

a rainha incendiária

a partilha suicida

para um reino imaginário


e consumiu gota em pranto

pó em vento que a fresta afagou

e ar que rondava e que ninguém

respirou


queimou

queimou

queimou

sábado, 18 de abril de 2009

Versos do Autor

por Fernando Gil Paiva

Imagem do filme Brilho Eterno...

Dentro de um poema chamado “Eloisa to Abelard”, encontram-se os famosos versos que seguem e que tão bem marcaram o filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind – 2004), com Kate Winslet, Jim Carrey, Kirsten Dunst e Elijah Wood. O poeta e escritor inglês Alexander Pope, autor dos famosos versos, nasceu em Londres em 1688.

"Feliz é a inocente vestal
Esquecendo o mundo e ser por ele esquecida
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança".

"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd";

O filme mostra como as pessoas lidam com suas mais particulares memórias e como certas coisas, por coincidência ou destino, simplesmente não podem ou não devem ser apagadas.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças ganhou o Oscar® de melhor Roteiro Original e foi indicado para Melhor Atriz (Kate Winslet).

Um famoso muito desconhecido

por Fernando Gil Paiva

Filmes que enganam. Se você perguntar para alguma pessoa se ela saberia identificar o filme das fotos (abaixo e mais abaixo), muito provavelmente não saberia, apesar de possivelmente conhecer esse clássico de ultra consagração.

Mas o que fez com que as pessoas apenas se fixassem em apenas 4 minutos de um filme de quase duas horas sendo que não apenas os 4, mas os 118 eram de mesma paridade?

Na década de 50, os diretores Gene Kelly e Stanley Donen e os roteiristas Betty Comden e Adolph Green trariam às telas do cinema uma das mais precisas obras do clássico conciso. Na minha infância, nunca tive oportunidade de me separar dos quatro minutos de "consagração" que o filme justa e injustamente teve. Apenas aos 20 anos, pude perceber o que se passava atrás da chuva mais famosa do cinema, bem como do mais famoso guarda-chuva e um dos mais apaixonados dançando e Cantando na Chuva.

Mas depois de assistir, percebi que seria impossível que o Gene Kelly pudesse sair bem depois de ficar cantando por esses 118 minutos numa chuva que não acabava. A mágica de Cantando na Chuva está na beleza de seus personagens interpretados por Donald O'Connor e Debbie Reynolds para completar o trio com Gene, que também atuava; no roteiro, que traz um conteúdo que a maioria dos cinéfilos sabe (eu não sabia); as músicas e a forma como foram mostradas, fizeram desse filme algo que ainda continua atual e tão potencialmente apreciável.

O que aconteceu para os que não sabem não se reside nas minhas palavras, mas nas palavras conduzidas pelos atores e pelo argumento da própria história que merece ser vista não para saciar uma dúvida, mas sim uma vontade de ver como importantes períodos técnicos e de transição do cinema eram debatidos e postos em prática.

Cantando na Chuva (1952) pode ser um filme que inconscientemente engana, mas não é à toa que é considerado o quinto melhor filme da história do cinema norte americano de todos os tempos, por diversos institutos de cinema compostos por críticos e diretores, como o AFI (American Film Institute).

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Sensorial, de Adélia Prado


Obturação, é da amarela que eu ponho.

Pimenta e cravo,

mastigo à boca nua e me regalo.

Amor, tem que falar meu bem,

me dar caixa de música de presente,

conhecer vários tons pra uma palavra só.

Espírito, se for de Deus, eu adoro,

se for de homem, eu testo

com meus seis intrumentos.

Fico gostando ou perdôo.

Procuro sol, porque sou bicho de corpo.

Sombra terei depois, a mais fria.



Adélia Prado é mineirinha do pão de queijo, do "ba da cama" e do "qui di carne"... Nasceu em Divinópolis em 1935, no dia 13 de dezembro.
A forma da palavra, que se cala ou que fala
traz o tom da precisão, da forma e da consistência
descontrói o contruído e "dessente" o tempo tão bem sentido
Faz da vida vivida, a palavra aplicada.

E isso fala por si só
Ou só isso já fala por tudo!
Pronto. Ponto final.

por Fernando Gil Paiva

terça-feira, 14 de abril de 2009

D - O - G - M - A - 9 - 5
por Fernando Gil Paiva

O movimento cinematográfico Dogma 95 nasceu de um manifesto assinado na Dinamarca a 13 de março de 95. Os autores foram os cineastas dinamarqueses Thomas Vintenberg e o consagrado Lars Von Trier (Dogville, Ondas do Destino, Dançando no Escuro).

Mas do que se trata o manifesto?

A idéia surgiu em prol de um cinema mais natural, original ao invés do comercial. As regras estabelecidas para que o filme pudesse adquirir o selo de reconhecimento DOGMA 95 rondavam critérios como não inserir pós-produção com inserções sonoras, efeitos especiais, edição, etc. O filme deve acontecer de modo que esses elementos estejam contidos desde seu momento de execução e gravação.

Abaixo, os dez mandamentos:
1- As filmagens devem ser feitas em locais externos. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).
2- O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A música não poderá ser utilizada a menos que ressoe no local onde se filma a cena).
3- A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos - ou a imobilidade - devidos aos movimentos do corpo. (O filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).
4- O filme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma iluminação especial. (Se há muito pouca luz, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).
5- São proibidos os truques fotográficos e filtros.
6- O filme não deve conter nenhuma ação "superficial". (Homicídios, Armas, etc. não podem ocorrer).
7- São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos. (O filme se desenvolve em tempo real).
8- São inaceitáveis os filmes de gênero.
9- O filme deve ser em 35 mm, padrão.
10- O nome do diretor não deve figurar nos créditos.

Poster Italiano Para Principiantes, que recebeu o Dogma 95.

Lars von Trier, tem como contribuição o filme Os Idiotas, o segundo a conseguir o certificado.
Sinopse do filme: Trata-se da história de um grupo de pessoas que fingem ter problemas mentais para conseguir regalias, se divertir e incomodar as pessoas, usando como argumento que é preciso deixar aflorar o lado idiota que existe em cada um e expor a hipocrisia burguesa.

Poster de - Os Idiotas

O novo filme do diretor mais lembrado pelo Dogma, entretanto, não receberá tal certificado. A previsão para a chegada de seu primeiro terror no Brasil – Anticristo – deve ser ainda nesse ano. O filme de Lars foi rodado na Alemanha e tem no seu elenco principal o ator Willem Dafoe (de Homem Aranha 2) e Charlotte Gainsburg (de Novo Mundo). O filme conta a história de um casal que se muda para uma cabana isolada após a morte do filho único. A partir disso, resta o nome do diretor e seu objetivo de fazer jus ao gênero escolhido.

Encontro do diretor Lars com Willem e Charlotte.

Fonte: http://www.fca.pucminas.br/ceis/videoteca/Elian/Filmes/idiotas.htm

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A luta amorosa de Poliphilo em um sonho

por Fernando Gil Paiva

Esse diferente título veio novamente ao meu universo hoje. Numa apresentação de seminário sobre tipografia tudo começou aparentemente bem e normal. O nome de Aldus Manutius soava com a mesma força de um Gutenberg naquele momento, mas logo viria algo que eu já ouvira falar e lera no passado. Era ele, o código dos cógidos, o indecifrável mais desejado da Renascença Italiana e o objeto de estudo de milhares de seguidores no mundo.

O “Hypnerotomachia Poliphili, ubi humana omnia non nisi somnium esse ostendit, atque obiter plurima scitu sanequam digna commemorat”, mais conhecido por seus dois primeiros nomes “Hypnerotomachia Poliphili”, ou numa versão traduzida “A luta amorosa de Poliphilo em um sonho”.

Aldus não participou na elaboração do livro, no que compete à escrita, mas sim em como a escrita seria passada para o papel e como, com qual fonte e de que modo tipográfico. A edição do Hypnerotomachia foi considerado o primeiro Livro Moderno contendo caracteres romanos e em parte gregos, suas ilustrações em preto e branco, além de ser escrito em latim, grego, hebraico, ábare e também em hieóglifos.

A autoria do livro em si é o grande mistério, apesar de que se acredita que tenha sido o monge dominicano Francesco Collona, por dois fortes motivos: o primeiro deles é que o monge teria pedido um empréstimo para a publicação do livro por volta de 1500. Como disse, o livro já é um grande desafio só por existir e o segundo motivo reside no fato de que as iniciais de cada capítulo formam a seguinte frase: Poliam frater Franciscvs Colomno peramavi, que traduzido do latim fica irmão Francisco Colono amava Polia intensamente. Isso ainda faz com que creiam que ele seja o idealizador da obra.

Como conhecer o Hypnerotomachia ou como ter mais noções sobre ele?

Foi ao ler o livro “O Enigma do Quatro”, de Ian Caldwell e Dustin Thomason, que narrava a história de universitários que tinham o misterioso livro como foco de estudo, que cheguei ao conhecimento de tal ebulição erudita. O livro traz curiosidades interessantes sobre o que se conseguiu decifrar até então... Mas esse decifrar ainda parece um tanto abstrato. A verdade é que o livro foi escrito em circunstancia tal que não poderia ser lido com a mensagem original, então isso faz do livro a fotografia e também seu negativo (secreto, entretanto), pois o leitor que traduz a obra do latim poderá deslumbrar-se com o:

“jovem Poliphilo que, dentro de um sonho, procura sua amada, a ninfa Polia. Para alcançar seu destino, ele precisa passar por misteriosas florestas, cidades e labirintos, presenciando todo tipo de cena bizarra e deparando com deuses, ninfas e outros seres mitológicos e arcades”.

Em seguida, a constante fragmentação do texto, a literal dissecação das palavras mostrava, por códigos sem padrão e inigualáveis em dificuldade, segundas, terceiras e quartas histórias por trás de um já denso embrulho de fino presente. Tanto o é que a partir disso conseguiram chegar a uma das suposições da autoria – a de Collona.

Outra curiosidade, 0que foi narrada na Itália dos 1500, tratava-se a respeito de como objetos de valor ou de extrema confiança eram entregues para seus destinatários por seus entregadores, fiéis ou infiéis, mas nunca confiáveis. Dito isso, envelopes, por exemplo, eram selados não com uma cera simples, mas com uma cera negra. Essas continham em sua mistura a erva Bella Dona que as mulheres usavam para dilatar suas pupilas (já que grandes pupilas eram sinônimo de beleza). O encarregado de levar o pacote guardava em seu corpo o próprio argumento da culpa. Quando o destinatário recebia o pacote e olhava nas pupilas do entregador, saberia de imediato a resposta. Confirmada a traição, confirmada a execução.

Mas essa seria apenas uma introdução para a escuridão renascentista na Itália. O livro traz uma narração interessante, bastante curiosa, entretanto afoita em suas conclusões. Mas o Hypnerotomachia vale como argumento de leitura ou, simplesmente, de pesquisa, caso não queira ler o livro, que diferentemente da relíquia, é de fácil acesso.

domingo, 12 de abril de 2009

Brilho Eterno de um Domínio Individualizante

por Fernando Gil Paiva

Por mais que cada grupo de seres, famílias nucleares, sociedades tenham se tornado individualizantes... Por mais que os estudos da física quântica apontem que uma célula, com suas cargas na eletrosfera e as diferenças de tal para qual, nunca irá tocar outra, ou seja, que nunca nada toca nada...

É possível mostrar que existe uma precisão no universo que também faz com que você nunca esteja sozinho. Uma formiga solitária, pequena e – para muitos – insignificante, exerce seu domínio naquilo que ela pertence. Ela será daquilo que sua existência lhe induz ser.


Foto de Fernando Gil Paiva

O que é a sombra senão o próprio que vai em duplicidade? Ou nos vidros, espelhos e metais os reflexos que projetam seu eu? Mas então vem a questão – que tal estar trancado onde não há reflexos e mergulhado na penumbra sem que sua sombra se prontifique? Por isso, Ernest Hemingway, soube prever tal individualização e disse que...

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

Fernando Pessoa disse a célebre frase: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Então, dentro da imprecisão da vida, Clarice Lispector apenas nos colocou a precisão da existência.

Precisão
O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.

Percebe-se que tantos buscaram e outros tantos ainda buscam formas de explicação para as mais diversas lacunas existentes na vida (e isso inclui a morte). Precisar ou não precisar, ser ou não ser preciso... é tudo uma questão de equilíbrio. Ou de ponderação. Cada um com seu limite toca até onde vai o que lhe é suportável. Um grupo é uma trama, mas a formiga solitária continua sendo uma formiga desgarrada de uma trama, continua exercendo seu domínio no domínio maior que faz parte - a da sua sociedade e pode tocar aqueles que convive, mesmo que nunca os toque fisicamente.

Cordas

Em 2008, James Marsh concluiu o documentário Man On Wire (O Equilibrista), que fala sobre travessias – uma travessia especificamente.
Em 1974, quando as Torres Gêmeas, em Nova York, haviam sido recém-inauguradas, um homem cometeu ali um crime. Para muitos, "o maior crime artístico do século". O nome do criminoso era Philippe Petit, que de forma ousada, arriscada e perigosa subiu ao topo de um dos edifícios mais altos de Manhattan para atravessar de um prédio ao outro equilibrando-se num cabo de aço. Este documentário mostra cenas reais da época, misturando atores reencenando todo o plano arquitetado por Philippe Petit. A produção ganhou o Oscar 2009 de Melhor Documentário.

Poster do Documentário

sábado, 11 de abril de 2009

Tecnologias do não ver [selecione essa parte] e do não ouvir [aqui leia só com os olhos]

por Fernando Gil Paiva
O filme Los Abrazos Rotos, de Pedro Almodóvar estreou em Madrid no fim do mês passado com a proposta de também contemplar espectadores que tenham deficiência auditiva e visual. A alternativa ocorreu por meio do projeto Cine Accesible com apoio de empresas do grupo audiovisual.

A projeção inclui uma legenda digital do filme, que se realiza sobre uma tela colocada abaixo da projeção, de maneira a não atrapalhar a imagem da película. As legendas seguem com um código de cores utilizado pelas pessoas surdas, o que facilita a identificação dos diálogos dos personagens – cada um com sua cor.
As pessoas com deficiência visual dispõem de fones individuais com volume ajustável, podendo seguir a descrição das cenas, situações e reações dos personagens. Enquanto isso, os sons originais poderão ser percebidos pelos auto falantes dispostos na sala de projeção.

Seguem as características do diretor no roteiro, bem como suas fiéis chicas Penélope Cruz e Chus Lampreave. O filme tem estréia prevista no Brasil para novembro.

Trailer final: http://www.youtube.com/watch?v=kJGjlZg6GOQ

Fonte: www.elmundo.es

Rompido & Rizomático

por Fernando Gil Paiva

A extensão dos feriados resulta na aglomeração de pessoas em lugares que possivelmente não as suportarão.

O ajuntamento ou multidão de coisas ou pessoas fará com que mais lixo seja acumulado em lugares impróprios.
O lixo leva a extensão do fator saneamento básico impróprio ou inexistente.
Jorge Furtado dirigiu Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga e Bruno Garcia em “Saneamento Básico, O Filme”.
Camila Pitanga, chama-se Silene, que faz o personagem de Silene Seagal, no vídeo 'O Monstro do Fosso', em homenagem ao ator Steven Seagal.
O ator Steven Seagal, nascido em Michigan, nos EUA, nasceu no dia 10 de Abril de 1951. Hoje! O que lhe resultam 58 anos.
O Ex-Beatle George Harrison morreu aos 58 anos de idade em 2001 por causa de um câncer na garganta.
O filme 2001 – Odisséia no Espaço, ocupa a 15ª posição na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos no Instituto de Filmes Americanos (AFI).
Para o diretor Stanley Kubrick (de 2001), “Somente depois de 40 tomadas, os atores param de dizer as falas mecanicamente e começam a atuar de forma convincente”.
Foi Harvey Hubbell quem desenvolveu o arranjo elétrico da tomada. Enquanto Thomas Edison descobria o potencial da eletricidade, Hubbell criou o primeiro método prático para seu controle.
Os controles remotos, que viraram remotos controles apareceram na canção de Belchior cantada por Adriana Calcanhoto na música Esquadros. Nessa, estão também as cores de Almodóvar.
O último filme do diretor espanhol Almodóvar leva o nome de “Los Abrazos Rotos” (Os abraços partidos) com a participação de Penélope Cruz. O filme estreou no dia 18 de março de 2009 na Espanha.
A justiça espanhola obrigou essa semana um pai divorciado a levar seu filho às procissões religiosas do feriado da Páscoa. A mãe católica abriu o processo após o pai se negar a levar o filho a tais eventos.
A Ilha de Páscoa fica no sul do oceano Pacífico. É famosa por suas gigantes estátuas de pedras e pertence à região de Valparaíso, no Chile.
Valparaíso foi local de uma das três casas edificadas pelo poeta Pablo Neruda que nasceu na capital Santiago a 12 de Julho de 1904 e morreu em 23 de setembro de 1973.
Tomando o número final do ano (04) e o mês (setembro) anteriores, temos 04 de setembro. Nesse dia, em 1941, plena Segunda Guerra Mundial, começa o bombardeio a Leningrado (Rússia), que resistiu durante 900 dias.
O dia 4 de setembro é o 247° dia do ano. E o dia 10 de abril (Hoje) é o 100° dia. A diferença de 247 e 100 dá 147.
Em 1954, morreu aos 91 anos o francês Auguste Lumière que, ao lado do irmão Louis, foi um dos inventores do cinema. Lumière nasceu em 1862 e se estivesse vivo, comemoraria, hoje (seu aniversário), 147 anos. Muito provavelmente, o feito ocorreria em meio à uma das milhares de aglomerações resultadas da união das pessoas na extensão dos feriados.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Coincidências?

por Fernando Gil Paiva

Frequentemente, acontecimentos diferentes rondam episódios de nossas vidas, seja por coisas que ousamos pensar e que depois acontecem, seja por pessoas que se ligam às nossas vidas e fazem parecer mais que coincidências... O fato é que existe algo muito tênue no limite do coincidente... Algo que alguns chamariam de destino. Para a maioria delas rimos, por admiração ou até mesmo medo, para outras - a seriedade naquilo que acontece pela milimetrica trama da vida. Resta-nos o pensar.

Em contrapartida, uma coincidência ou fato do destino sempre estará acompanhado de uma partícula condicional chamada "se", que virá inevitavelmente quando chegar o "pensar" acima mencionado. Se não tivesse dado um passo, se tivesse me atrasado um segundo ou dois, se tivesse seguido por outro caminho, se tivese ousado, se não tivesse tido medo... Assim, em cada ponta da corda pende uma delicada coincidência que é diretamente dependete de um "se" extremamente volátil que fica na outra ponta. Para onde cada um vai ou onde cada um escolhe ficar é mero fator de acaso, ou tendência da corda pela qual caminhamos.
Você acredita em coincidências?

"Costuma-se dizer que a vida é cheia de coincidências. Eu não as nego, nem as confirmo. O certo é que já presenciei coisas, que me custa acreditar que sejam obras do acaso. Mas que certezas podemos ter se nem sequer sabemos se a nossa existência é ou não obra do acaso? Quem idealizou e fez o projeto de um Álvaro, para me fabricar tal como sou? Nenhum pai poderá afirmar: "Eu vou fabricar um filho homem; ele vai ser alto, cabelos louros, olhos castanhos. Terá a fisionomia angular do meu rosto e a candura da mãe...".
Não nos é permitido criar algo a partir do nada; não somos criadores, podemos apenas descobrir o que já existe. A partir dessas descobertas, o homem pode e tem feito maravilhas. Mas permanecerá sempre a pergunta: Quem somos? Donde viemos? Para onde vamos?
Se não temos as respostas para essas interrogações, também não as temos para muitas outras coisas que nos acontecem. Porque não tenho a resposta, vou deixar para vossas apreciações acontecimentos que vivenciei.
Estava fazendo uma cerca de arame liso na minha chácara e o meu ajudante com força esticava o arame de aço para o fixarmos no poste que serviria de esticador. Embora novo, como depois deduzimos, o arame era de má qualidade, não aguentou o repuxo e quebrou. A ponta afiada raspou o meu olho esquerdo; senti apenas uma pequena ardência, mas um fio de sangue me toldou a visão; precupado, fui lavar o olho no córrego ali perto. Alguns minutos depois, o sangue já havia parado, mas voltei para casa e procurei o Dr. Sebastião Vaz, meu oculista. Ao observar o olho não havia nenhuma lesão. Ele me disse: "Você teve muita sorte, aquela belida* (Névoa, dos olhos) que nós tínhamos que retirar, o arame se antecipou e operou seu olho com perfeição!".
Ainda hoje me interrogo: como foi possível? O duro arame de aço, num arranque pode passar no meu olho com tão milimétrica precisão e, apesar da rapidez, transformar-se num delicado bisturi e ter a paciência de operar o olho que, por coincidência, precisava ser operado? Deixo por conta o seu entendimento, achar a explicação para tão insólito acontecimento".

(Continua...) Trecho do livro "Minha Aldeia - Prosa e Verso", de Álvaro Martins.

Não Por Acaso
Depois da precisão, como seria ter a vida definida pela imprecisão de dois segundos?
O filme de Philippe Barcinski, Não Por Acaso, mostra como a vida de pessoas em pontos diferentes da corda pode mudar a partir de um mesmo abalo. São pontos de vistas diferentes em situações diferentes mas que geram buscas semelhantes como a superação e conhecimento (de si mesmo e do próximo). No elenco, Letícia Sabatella, Leonardo Medeiros, Cássia Kiss, Rodrigo Santoro e Graziella Moretto.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

MUSAS Parte II
Keaton, Farrow, Wiest, Huston, Johansson…


por Fernando Gil Paiva
Acompanhar os filmes de Woody Allen na década de oitenta era o mesmo que acompanhar o crescimento da carreira da já conhecida Mia Farrow que atuara em O Bebê de Rosemary (1968 – do diretor Roman Polanski) e em John & Mary – ao lado de Dustin Hoffman (1969. Filme de Peter Yates).

O primeiro que eu tive a chance de ver foi Zelig, que na época eu vi várias e várias vezes para fazer uma análise de Foucault. Depois disso, foram quase todos – uns 90% deles – e durou até que eles estivessem juntos ou até que se separassem. (a Mia e o Woody, que fizeram 13 filmes juntos).

Diane Wiest, Barbara Hershey e Mia Farrow em Hannah e Suas Irmãs

E isso aconteceu antes que ele diminuísse seus trabalhos com sua primeira inspiração que era a grande Diane Keaton, com quem atuou em oito filmes e conseguiu suas maiores aquisições em questão de reconhecimento, principalmente com Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) e Manhattan em um dos picos da sua carreira.

Woody Allen e Diane Keaton em Annie Hall

Na década de oitenta, ainda surgiram musas paralelas à Farrow, como as máximas Diane Wiest (Em A Era do Rádio, Hannah e suas Irmãs, Setembro, Tiros Sobre a Broadway e a Rosa Púrpura do Cairo) e Anjelica Huston (Crimes & Pecados e Um Misterioso Assassinato em Manhattan) que trabalharam com Woody mais de uma vez.


Anjelica Huston - a Dolores Paley de Crimes e Pecados

Depois de um bom tempo, trabalhando sempre com novos atores, experimentando atuações diferentes e únicas como a de Barbara Hershey em Hannah; Samantha Morton e sua personagem muda em Poucas e Boas; a irreverente Mira Sorvino em Poderosa Afrodite; Christina Ricci em Igual a Tudo na Vida e assim por diante... Pequenas notáveis. Grandes notáveis!

Tudo isso para que ele chegasse nela, a inspiração que foi sua grande obra de arte – a sedutora Scarlett Johansson que fez o já clássico Match Point, Scoop – O Grande Furo e por último Vicky Cristina Barcelona ao lado de Penélope Cruz... (Pausa para respirar).

Evidentemente, um elenco que fez diferenças para os grandes papéis e diálogos únicos que Woody escrevia com seu talento ímpar. Com certeza ele sabia que nenhuma delas era como dirigir no escuro, em cada uma de suas Musas estavam guardadas suas potências de atuação e naturalidade.

Scarlett Johansson e Jonthan Rhys Meyers

terça-feira, 7 de abril de 2009

08 de Abril de 1719

por Fernando Gil Paiva

No início de 2005, já era sabido que eu viria para Cuiabá fazer o terceiro ano para melhor me preparar para o vestibular. Moraria com meu irmão, que hoje é médico, e me dedicaria aos estudos. Confesso que vir à Cuiabá antes do definitivo era algo difícil e complexo, mas valia por ver meus irmãos. Parecia que era muito mais longe, não sei se muito mais quente, mas era algo muito distante daquilo que eu vivia desde os 11 em Primavera do Leste.

Hoje, em 2009, como disse meu irmão já se formou (e também minha irmã e também minha mãe) morar sozinho é como aprender a morar em um lugar diferente. Cuiabá mudou completamente sua imagem e continuará sempre assim. Por exemplo, o longe já não o é mais, pois chegar em Primavera só parece um passo um pouco maior, a questão fica mais com o tempo. Depois tem o calor, como é quente aqui. Mas isso é algo que nos acostumamos, depois desacostumamos, reclamamos e continuamos. E o trânsito, que torço pra não ver com banalidades as fatalidades de pessoas em desatino.

Já consigo sentir falta daqui quando fico muito tempo longe, pois a correria do dia a dia já faz parte de mim. Ter aulas, dar aulas, correr, comer, estudar, escrever, escrever... Mas nada a reclamar, só a agradecer. Enfim, é claro que quero lembrar o aniversário de Cuiabá, mas para amenizar o já existente desconforto da temperatura, prefiro não acender 290 velas para não aumentar o calor. Apenas dizer meus parabéns!


É muita história pra ser contada, são muitas pessoas e lugares que constroem um imaginário e um real hiper real. Morro da Luz, Maria Taquara, Praça da República e as pouco percebidas quatros estátuas das estações do ano, Avenida Fernando Corrêa, Isaac Póvoas, Miguel Sutil, Jardim Guanabara, UFMT, Sesc Arsenal, Centro de Eventos Pantanal, SEST Senat, lugares que pertencem ou pertenceram por caminhos trilhados nesse mapa rizomático.
“Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir”.

Gravando em Cuiabá. Foto de Lais Dias.

P.S.: E parabéns para Juliana Kobayashi, vulgo, Dudi... vulgo, anime em pessoa ^^

Fonte das demais fotos: Google Imagens.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sustentação Baseado em fatos reais
por Fernando Gil Paiva


Um olhar vem de um ônibus que sobe a longa avenida.

Um homem sentado em uma cadeira estende sua mão.

Uma mulher de idade avançada dá pequenos passos em outra direção.

Personagens que estarão em breve entrelaçados pelo fato sem testemunho.

Um – o olhar voltado exclusivamente para fora segue sua travessia esperando a chegada do local da descida. Esse mesmo olhar é o que vê os outros dois personagens; Dois – o homem cheio de silêncio e envolto em pseudo proteção; Três – a mulher com tempo de imprecisão.

Assim estiveram juntos por segundos traçados pelo fator dito SUSTENTAÇÃO. A história sustenta-se por seus fatos e os atuantes diretos ou indiretos pela própria condição em que se encontram e que fazem o mesmo olhar condicioná-los.

Bem, segue a mulher com uma bengala presa com bastante firmeza em seus dedos longos. Cada passo é como o tempo do retrocesso (pois ela tem o hábito de retomar o passado a cada passo) e também o retrocesso do tempo que se esgota.

O segundo permanece parado. Está sentado e, com as mãos, apóia um prato, o qual sugere à idéia de seu alimento, seu sustento. “Ajude com qualquer quantia. Deus te abençoe”. Esse pedido feito em silêncio era lido constantemente por pessoas que iam e vinham, que apenas iam ou somente vinham.

Estavam ali as mãos que sustentam. A mão do homem que sustenta o prato que o sustenta; e a mulher que sustenta a bengala que a sustenta. Ações de reciprocidade, cada um em sua única esfera de relacionamento.

Quantas pessoas tão também capazes de ler o pedido feito no silêncio sugerido pela bengala?

Suas mãos podiam mais que sustentar objetos, mas ficou claro com a troca de olhar imaginária, inventada por um ávido olhar de execução, que mãos que sustentam são como as vontades que se pode executar. A vontade da chegada ao ponto final dela. A vontade da chegada ao ponto final dele. Ambos pontos desconhecidos. Mas cada um com fim estabelecido.

Uma mulher de idade avançada dá pequenos passos em outra direção.

Um homem sentado em uma cadeira mantém sua mão estendida.

Um olhar vem de um ônibus que sobe a longa avenida.

Mas o que seria se os três pontos finais fossem de uma mesma sentença?

Uma sentença de vida ou sentença como frase / oração, ou até mesmo oração de uma mesma prece... Prece de vida e vidas em comum. O comum que era invisível e invisíveis que eram cada um de nós – ela, ele e eu. Uma mulher, um homem e um olhar.

domingo, 5 de abril de 2009

MUSAS Parte I
por Fernando Gil Paiva

O lançamento do livro Fascinado pela Beleza mostra uma profunda análise dos filmes de Alfred Hitchcock mostrando principalmente a parte que compete às histórias dos filmes em si e suas estrelas, as musas Hitchcockianas. Além de entrevistas e informações do diretor que não foram divulgadas.


Mas não foi apenas Hitchcock que, em sua vasta obra, quis repetir as atuações daquelas que se tornariam as suas queridinhas ou se tornariam tais apenas por seus papéis únicos no filme. Podem ser citados Pedro Almodóvar, Woody Allen, Fellini, Tim Burton – nesse caso o conceito vai para o masculino e se traduz por Johnny Depp – entre outros.

Os filmes de Hitchcock não seriam Os filmes de Hitchcock não fossem elas...
Ingrid Bergman – Interlúdio, Quando Fala o Coração e Sob o Signo de Capricórnio.


Grace Kelly – Intriga Internacional e Disque M para Matar.

Kim Novak – Um Corpo Que Cai.


Doris Day – O Homem Que Sabia Demais.


Anne Baxter – A Tortura do Silêncio.

Tippi Hedren – Os Pássaros.

Shirley McLaine – O Terceiro Tiro.
Joan Fontaine – Rebecca.
Julie Andrews – Cortina Rasgada.

O livro é de Donald Spoto pela Editora Larousse.