quarta-feira, 29 de abril de 2009
O Escafandro e a Borboleta
Aviso aos desapercebidos
Sem querer fugir da seriedade da eminência de uma pandemia... Um aviso de um aeroporto no Japão não soube ao certo para qual público direcionar sua mensagem de aviso da gripe suína - fosse para o espanhol ou para o inglês. Então, por que não um pouco dos dois?
Imagem retirada de UOL imagens do dia.
terça-feira, 28 de abril de 2009
“O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda”
Versos de Cérebro Eletrônico, música escrita por Gilberto Gil.
AGIR
"...se antes de cada acto nosso, nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar".
(José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira)
segunda-feira, 27 de abril de 2009
As vidas após o desperdício
A primeira razão é que famílias que se alimentam do lixo não precisariam, na prática, ter que esperar que a comida fosse jogada fora e depois para suas bocas; A segunda vem de dados do Instituto Akatu, que mostra que 1/3 (um terço) de tudo que se compra vai direto o lixo. Qual o preço do preço do financiamento dos lixões? Parte significativa do bolso de cada um.
Mas esse ciclo de ações não fica restrito apenas a perder seu dinheiro, formar pessoas mais conscientes, difundir novas práticas de reciclagem, mas também reduzir o desmatamento pela menor produção de lixo e gerar novas fontes de renda e oportunidades.
Jurema é moradora da Boca de Lixo de São Gonçalo e um de seus sonhos é ter doze filhos. Ela já tem sete. No documentário homônimo ao lugar, o diretor Eduardo Coutinho mostra o que a maioria de nós nunca irá ver – a estreita ligação do lixo com a vida de seus dependentes. Na reportagem de capa, que fala sobre as vidas após o desperdício, o lixo vira banquete e algoz – é a mão que leva o alimento e a que dá o tapa na cara da sociedade cega. Nas páginas que seguem, abra os olhos para que essa mão não chegue até você.
Jurema, à direita.
domingo, 26 de abril de 2009
Um metro e vinte de pernas!
Muitos já foram condenados friamente por sustentar mentiras por muito tempo. A inquisição queimou milhares. Os tribunais condenam outros tantos por falsos testemunhos, outros são consagrados pela omissão da verdade, outros, por induzir à mentira. Não que isso seja ruim, de modo algum, a mentira consagrada é tal qual uma breve cegueira branca, a do Saramago mesmo. Se ela for igual à da história, uma hora passa e depois tudo volta ao normal e no fim das contas isso até nos ajudou a ver as coisas de um modo diferente.
Pois bem, voltando aos Coen, esses dois irmãos – escritores e diretores – quiseram dar uma prévia do que era seu talento, antes de fazer O grande Lebowski (1998), E aí, meu irmão, cadê você? (2000) e Onde os Fracos Não tem Vez (2007) contando uma história chegada às aproximações do público por ser baseada em fatos reais. Há que se convir que o telespectador já concede alguns pontos apenas por esse fator, senão, o mínimo é começar assisti-lo com um olhar diferenciado.
Quem morreu no carro capotado fazia parte de uma bola de neve que já estava rolando desde uns dias atrás na história. Fargo, a cidade e também o nome do filme, é o lugar de origem da idéia que William H. Macy tenta emplacar quando decide forjar um seqüestro. O desenvolver dessa história é o que move o fascínio que segue. O revendedor de carros interpretado por Macy tem que se virar muito bem pra esconder suas mentiras sob um estado coberto de neve (Minesota) que, por sinal, fica facilmente manchada por sangue logo que tem a oportunidade.
As agulhas dos Coen vão tecendo, tecendo, firmando cada personagem desde o seqüestrado, os autores da ação e também os que participam voluntária ou involuntariamente da bola de neve ou seria bola de mentiras? Bom, falar de Fargo é falar de uma boa história. E que história! Pois faz qualquer um ficar se repetindo durante o filme: Como? Como? Como? Como? Sem falar naquela mesma frase inicial se repetindo: “Esta é uma história real. Os eventos descritos no filme ocorreram em Minesota em 1987. A pedido dos sobreviventes, os nomes foram trocados. Por respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu”. Que filme!
É por isso que algumas mentiras conduzidas são louváveis. Graças aos Coen, à Frances, ao William e também aos outros atores, pode-se inserir numa ficção de alto estilo. Uma daquelas que faz você continuar se questionando Como? por mais um bom tempo. E daí se nos fizeram crer que essa história era verdade? Quantos outros hoje contam coisas piores? Uma cegueira dessas não tem preço! O mais interessante é que os Coen também não fizeram questão de fazer com que as pessoas tivessem apego ao detalhe, mantiveram suas longas pernas bem escondidas, mas até mesmo as mais longas acabam por aparecer atrás da roupa que deslizou e se deixou mostrar.
Para quem viu o filme e tentou analisar cada passo da história de Fargo ficou a ver navios, depois à deriva, depois a contemplação. “Se a platéia acredita que o filme é baseado em um fato real, dá a você a permissão para fazer coisas que de outro modo não aceitaria”, disse Joel em um momento após o filme ser descoberto. Quando você entra numa sala de cinema, concorda que vai para ver algo que é fictício, por mais que tente ao máximo representar o real. Se objetos ou palavras de ludibrio tentam vetar seu argumento, então você também aceita e admira o fato de alguém ser tão ousado por tentar enganá-lo mais de uma vez e conseguir fazê-lo.
Algumas verdades são melhores escondidas.
Fargo (1996)
sábado, 25 de abril de 2009
"O cego ergueu a mão diante dos olhos, moveu-as, Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite, Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco..."*
As velhas senhoras, em sua concepção, mesmo tendo os olhos perfeitos e a expresão do entendimento e surpresa por algo visto, jamais puderam ou poderiam ser providas da visão e muito menos da cegueira, fosse negra ou fosse branca. Os olhos não viam, o cérebro não via.
E quanto a nós que as vemos? Vemos com nossos olhos ou vemos com nossos cérebros? E o que pode ser por nós interpretados como verdade? As senhoras, isoladas e sozinhas, no não-ser vivem pelos olhos dos outros, não pelos seus.
"Veja como olham!", disse a da esquerda. A que a olhava querendo tocá-la.
"Está bem menor, não?" "Parece que sim" respondeu em atenção.
Mas é como se fosse verdade. Não deixa de ser. É a verdade delas.
Nós que as vemos agora as compreendemos.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Sobre funções e suas interpretações
terça-feira, 21 de abril de 2009
por Fernando Gil Paiva
- Por que você não faz uma música para mim? – perguntou.
A melodia de “La vie en rose ” estava escrita e cantarolei para ela, que gostou e pediu que terminasse a canção – ainda sem letra e sem título.
- Combinado! – Exclamei. – E é pra já!
Ao dizer isso, peguei a centa e rabisquei os dois primeiros versos na toalha de papel:
Quand Il me prend dans ses bras,
Je vois lês choses em rose...
Marianne fez uma careta.
- Você gosta desse “as coisas” (choses)? Não fica melhor “a vida”?
- Boa idéia!... E o título vai ser “La vie em rose”... O título é seu. E corrigi:
Quand Il me prends dans ses bras,
Je vois la vie en rose...”
Ninguém aceitaria algo que iria ser lançado para não ser cantado por sua voz. Marianne Michel lançou a ‘La vie em rose’ que começou a ser largamente disseminada no mundo. Edith Piaf apenas cantou-a pela primeira vez dois anos depois de seu lançamento.
“Quando ele me toma em seus braços
Assim, de modo quase casual, brotava da informalidade dos pequenos encontros, a erudição das palavras. Piaf derivou de sua vida um tanto inspiradora muitas e muitas canções que soariam no mundo todo, no topo do mundo. Como consequência justa e direta, nada mais que a eternização da face, das mãos e da voz que fervia e transbordava de vida e vontade de viver e cantar.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
por Fernado Gil Paiva
Três distintos pegaram suas
últimas pequenas memórias
cada um doou seu por cento
por certo de que daria um todo
uma por uma, lembrança
de partilha de ouro maleável
derreteu na brasa fina e consumiu
as últimas palavras de incineração
a primeira memória
era o cachorro sentado que deitou
na vida por intempérie
falta de intermédio, física
locomoção
a segunda memória
o apelo do diafragma
que ardeu lento
no riso solto da última, fala
logo a terceira!
tão depois de esperar
jogou seu último baralho
a rainha incendiária
a partilha suicida
para um reino imaginário
e consumiu gota em pranto
pó em vento que a fresta afagou
e ar que rondava e que ninguém
respirou
queimou
queimou
queimou
sábado, 18 de abril de 2009
Versos do Autor
Imagem do filme Brilho Eterno...
"Feliz é a inocente vestal
Esquecendo o mundo e ser por ele esquecida
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança".
"How happy is the blameless vestal's lot!
Eternal sunshine of the spotless mind!
O filme mostra como as pessoas lidam com suas mais particulares memórias e como certas coisas, por coincidência ou destino, simplesmente não podem ou não devem ser apagadas.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças ganhou o Oscar® de melhor Roteiro Original e foi indicado para Melhor Atriz (Kate Winslet).
Um famoso muito desconhecido
Mas o que fez com que as pessoas apenas se fixassem em apenas 4 minutos de um filme de quase duas horas sendo que não apenas os 4, mas os 118 eram de mesma paridade?
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Pimenta e cravo,
mastigo à boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons pra uma palavra só.
Espírito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meus seis intrumentos.
Fico gostando ou perdôo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.
Adélia Prado é mineirinha do pão de queijo, do "ba da cama" e do "qui di carne"... Nasceu em Divinópolis em 1935, no dia 13 de dezembro.
A forma da palavra, que se cala ou que fala
traz o tom da precisão, da forma e da consistência
descontrói o contruído e "dessente" o tempo tão bem sentido
Faz da vida vivida, a palavra aplicada.
E isso fala por si só
Ou só isso já fala por tudo!
Pronto. Ponto final.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Mas do que se trata o manifesto?
A idéia surgiu em prol de um cinema mais natural, original ao invés do comercial. As regras estabelecidas para que o filme pudesse adquirir o selo de reconhecimento DOGMA 95 rondavam critérios como não inserir pós-produção com inserções sonoras, efeitos especiais, edição, etc. O filme deve acontecer de modo que esses elementos estejam contidos desde seu momento de execução e gravação.
Abaixo, os dez mandamentos:
1- As filmagens devem ser feitas em locais externos. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).
2- O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A música não poderá ser utilizada a menos que ressoe no local onde se filma a cena).
3- A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos - ou a imobilidade - devidos aos movimentos do corpo. (O filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).
4- O filme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma iluminação especial. (Se há muito pouca luz, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).
5- São proibidos os truques fotográficos e filtros.
6- O filme não deve conter nenhuma ação "superficial". (Homicídios, Armas, etc. não podem ocorrer).
7- São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos. (O filme se desenvolve em tempo real).
8- São inaceitáveis os filmes de gênero.
9- O filme deve ser em 35 mm, padrão.
10- O nome do diretor não deve figurar nos créditos.
Poster Italiano Para Principiantes, que recebeu o Dogma 95.
Lars von Trier, tem como contribuição o filme Os Idiotas, o segundo a conseguir o certificado.
Sinopse do filme: Trata-se da história de um grupo de pessoas que fingem ter problemas mentais para conseguir regalias, se divertir e incomodar as pessoas, usando como argumento que é preciso deixar aflorar o lado idiota que existe em cada um e expor a hipocrisia burguesa.
Poster de - Os Idiotas
O novo filme do diretor mais lembrado pelo Dogma, entretanto, não receberá tal certificado. A previsão para a chegada de seu primeiro terror no Brasil – Anticristo – deve ser ainda nesse ano. O filme de Lars foi rodado na Alemanha e tem no seu elenco principal o ator Willem Dafoe (de Homem Aranha 2) e Charlotte Gainsburg (de Novo Mundo). O filme conta a história de um casal que se muda para uma cabana isolada após a morte do filho único. A partir disso, resta o nome do diretor e seu objetivo de fazer jus ao gênero escolhido.
Encontro do diretor Lars com Willem e Charlotte.
Fonte: http://www.fca.pucminas.br/ceis/videoteca/Elian/Filmes/idiotas.htm
segunda-feira, 13 de abril de 2009
A luta amorosa de Poliphilo em um sonho
O “Hypnerotomachia Poliphili, ubi humana omnia non nisi somnium esse ostendit, atque obiter plurima scitu sanequam digna commemorat”, mais conhecido por seus dois primeiros nomes “Hypnerotomachia Poliphili”, ou numa versão traduzida “A luta amorosa de Poliphilo em um sonho”.
Aldus não participou na elaboração do livro, no que compete à escrita, mas sim em como a escrita seria passada para o papel e como, com qual fonte e de que modo tipográfico. A edição do Hypnerotomachia foi considerado o primeiro Livro Moderno contendo caracteres romanos e em parte gregos, suas ilustrações em preto e branco, além de ser escrito em latim, grego, hebraico, ábare e também em hieóglifos.
A autoria do livro em si é o grande mistério, apesar de que se acredita que tenha sido o monge dominicano Francesco Collona, por dois fortes motivos: o primeiro deles é que o monge teria pedido um empréstimo para a publicação do livro por volta de 1500. Como disse, o livro já é um grande desafio só por existir e o segundo motivo reside no fato de que as iniciais de cada capítulo formam a seguinte frase: Poliam frater Franciscvs Colomno peramavi, que traduzido do latim fica irmão Francisco Colono amava Polia intensamente. Isso ainda faz com que creiam que ele seja o idealizador da obra.
Como conhecer o Hypnerotomachia ou como ter mais noções sobre ele?
Foi ao ler o livro “O Enigma do Quatro”, de Ian Caldwell e Dustin Thomason, que narrava a história de universitários que tinham o misterioso livro como foco de estudo, que cheguei ao conhecimento de tal ebulição erudita. O livro traz curiosidades interessantes sobre o que se conseguiu decifrar até então... Mas esse decifrar ainda parece um tanto abstrato. A verdade é que o livro foi escrito em circunstancia tal que não poderia ser lido com a mensagem original, então isso faz do livro a fotografia e também seu negativo (secreto, entretanto), pois o leitor que traduz a obra do latim poderá deslumbrar-se com o:
“jovem Poliphilo que, dentro de um sonho, procura sua amada, a ninfa Polia. Para alcançar seu destino, ele precisa passar por misteriosas florestas, cidades e labirintos, presenciando todo tipo de cena bizarra e deparando com deuses, ninfas e outros seres mitológicos e arcades”.
Em seguida, a constante fragmentação do texto, a literal dissecação das palavras mostrava, por códigos sem padrão e inigualáveis em dificuldade, segundas, terceiras e quartas histórias por trás de um já denso embrulho de fino presente. Tanto o é que a partir disso conseguiram chegar a uma das suposições da autoria – a de Collona.
Outra curiosidade, 0que foi narrada na Itália dos 1500, tratava-se a respeito de como objetos de valor ou de extrema confiança eram entregues para seus destinatários por seus entregadores, fiéis ou infiéis, mas nunca confiáveis. Dito isso, envelopes, por exemplo, eram selados não com uma cera simples, mas com uma cera negra. Essas continham em sua mistura a erva Bella Dona que as mulheres usavam para dilatar suas pupilas (já que grandes pupilas eram sinônimo de beleza). O encarregado de levar o pacote guardava em seu corpo o próprio argumento da culpa. Quando o destinatário recebia o pacote e olhava nas pupilas do entregador, saberia de imediato a resposta. Confirmada a traição, confirmada a execução.
Mas essa seria apenas uma introdução para a escuridão renascentista na Itália. O livro traz uma narração interessante, bastante curiosa, entretanto afoita em suas conclusões. Mas o Hypnerotomachia vale como argumento de leitura ou, simplesmente, de pesquisa, caso não queira ler o livro, que diferentemente da relíquia, é de fácil acesso.
domingo, 12 de abril de 2009
Brilho Eterno de um Domínio Individualizante
por Fernando Gil Paiva
Por mais que cada grupo de seres, famílias nucleares, sociedades tenham se tornado individualizantes... Por mais que os estudos da física quântica apontem que uma célula, com suas cargas na eletrosfera e as diferenças de tal para qual, nunca irá tocar outra, ou seja, que nunca nada toca nada...
É possível mostrar que existe uma precisão no universo que também faz com que você nunca esteja sozinho. Uma formiga solitária, pequena e – para muitos – insignificante, exerce seu domínio naquilo que ela pertence. Ela será daquilo que sua existência lhe induz ser.
Foto de Fernando Gil Paiva
“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.
Fernando Pessoa disse a célebre frase: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Então, dentro da imprecisão da vida, Clarice Lispector apenas nos colocou a precisão da existência.
Precisão
O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.
Percebe-se que tantos buscaram e outros tantos ainda buscam formas de explicação para as mais diversas lacunas existentes na vida (e isso inclui a morte). Precisar ou não precisar, ser ou não ser preciso... é tudo uma questão de equilíbrio. Ou de ponderação. Cada um com seu limite toca até onde vai o que lhe é suportável. Um grupo é uma trama, mas a formiga solitária continua sendo uma formiga desgarrada de uma trama, continua exercendo seu domínio no domínio maior que faz parte - a da sua sociedade e pode tocar aqueles que convive, mesmo que nunca os toque fisicamente.
Cordas
Em 2008, James Marsh concluiu o documentário Man On Wire (O Equilibrista), que fala sobre travessias – uma travessia especificamente.
Em 1974, quando as Torres Gêmeas, em Nova York, haviam sido recém-inauguradas, um homem cometeu ali um crime. Para muitos, "o maior crime artístico do século". O nome do criminoso era Philippe Petit, que de forma ousada, arriscada e perigosa subiu ao topo de um dos edifícios mais altos de Manhattan para atravessar de um prédio ao outro equilibrando-se num cabo de aço. Este documentário mostra cenas reais da época, misturando atores reencenando todo o plano arquitetado por Philippe Petit. A produção ganhou o Oscar 2009 de Melhor Documentário.
Poster do Documentário
sábado, 11 de abril de 2009
por Fernando Gil Paiva
Seguem as características do diretor no roteiro, bem como suas fiéis chicas Penélope Cruz e Chus Lampreave. O filme tem estréia prevista no Brasil para novembro.
Trailer final: http://www.youtube.com/watch?v=kJGjlZg6GOQ
Fonte: www.elmundo.es
Rompido & Rizomático
por Fernando Gil Paiva
A extensão dos feriados resulta na aglomeração de pessoas em lugares que possivelmente não as suportarão.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
por Fernando Gil Paiva
Frequentemente, acontecimentos diferentes rondam episódios de nossas vidas, seja por coisas que ousamos pensar e que depois acontecem, seja por pessoas que se ligam às nossas vidas e fazem parecer mais que coincidências... O fato é que existe algo muito tênue no limite do coincidente... Algo que alguns chamariam de destino. Para a maioria delas rimos, por admiração ou até mesmo medo, para outras - a seriedade naquilo que acontece pela milimetrica trama da vida. Resta-nos o pensar.
(Continua...) Trecho do livro "Minha Aldeia - Prosa e Verso", de Álvaro Martins.
Não Por Acaso
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Keaton, Farrow, Wiest, Huston, Johansson…
por Fernando Gil Paiva
O primeiro que eu tive a chance de ver foi Zelig, que na época eu vi várias e várias vezes para fazer uma análise de Foucault. Depois disso, foram quase todos – uns 90% deles – e durou até que eles estivessem juntos ou até que se separassem. (a Mia e o Woody, que fizeram 13 filmes juntos).
Diane Wiest, Barbara Hershey e Mia Farrow em Hannah e Suas Irmãs
E isso aconteceu antes que ele diminuísse seus trabalhos com sua primeira inspiração que era a grande Diane Keaton, com quem atuou em oito filmes e conseguiu suas maiores aquisições em questão de reconhecimento, principalmente com Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) e Manhattan em um dos picos da sua carreira.
Woody Allen e Diane Keaton em Annie Hall
Na década de oitenta, ainda surgiram musas paralelas à Farrow, como as máximas Diane Wiest (Em A Era do Rádio, Hannah e suas Irmãs, Setembro, Tiros Sobre a Broadway e a Rosa Púrpura do Cairo) e Anjelica Huston (Crimes & Pecados e Um Misterioso Assassinato em Manhattan) que trabalharam com Woody mais de uma vez.
Anjelica Huston - a Dolores Paley de Crimes e Pecados
Depois de um bom tempo, trabalhando sempre com novos atores, experimentando atuações diferentes e únicas como a de Barbara Hershey em Hannah; Samantha Morton e sua personagem muda em Poucas e Boas; a irreverente Mira Sorvino em Poderosa Afrodite; Christina Ricci em Igual a Tudo na Vida e assim por diante... Pequenas notáveis. Grandes notáveis!
Tudo isso para que ele chegasse nela, a inspiração que foi sua grande obra de arte – a sedutora Scarlett Johansson que fez o já clássico Match Point, Scoop – O Grande Furo e por último Vicky Cristina Barcelona ao lado de Penélope Cruz... (Pausa para respirar).
Evidentemente, um elenco que fez diferenças para os grandes papéis e diálogos únicos que Woody escrevia com seu talento ímpar. Com certeza ele sabia que nenhuma delas era como dirigir no escuro, em cada uma de suas Musas estavam guardadas suas potências de atuação e naturalidade.
Scarlett Johansson e Jonthan Rhys Meyers
terça-feira, 7 de abril de 2009
08 de Abril de 1719
por Fernando Gil Paiva
Hoje, em 2009, como disse meu irmão já se formou (e também minha irmã e também minha mãe) morar sozinho é como aprender a morar em um lugar diferente. Cuiabá mudou completamente sua imagem e continuará sempre assim. Por exemplo, o longe já não o é mais, pois chegar em Primavera só parece um passo um pouco maior, a questão fica mais com o tempo. Depois tem o calor, como é quente aqui. Mas isso é algo que nos acostumamos, depois desacostumamos, reclamamos e continuamos. E o trânsito, que torço pra não ver com banalidades as fatalidades de pessoas em desatino.
Já consigo sentir falta daqui quando fico muito tempo longe, pois a correria do dia a dia já faz parte de mim. Ter aulas, dar aulas, correr, comer, estudar, escrever, escrever... Mas nada a reclamar, só a agradecer. Enfim, é claro que quero lembrar o aniversário de Cuiabá, mas para amenizar o já existente desconforto da temperatura, prefiro não acender 290 velas para não aumentar o calor. Apenas dizer meus parabéns!
É muita história pra ser contada, são muitas pessoas e lugares que constroem um imaginário e um real hiper real. Morro da Luz, Maria Taquara, Praça da República e as pouco percebidas quatros estátuas das estações do ano, Avenida Fernando Corrêa, Isaac Póvoas, Miguel Sutil, Jardim Guanabara, UFMT, Sesc Arsenal, Centro de Eventos Pantanal, SEST Senat, lugares que pertencem ou pertenceram por caminhos trilhados nesse mapa rizomático.
Gravando em Cuiabá. Foto de Lais Dias.
P.S.: E parabéns para Juliana Kobayashi, vulgo, Dudi... vulgo, anime em pessoa ^^
Fonte das demais fotos: Google Imagens.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
por Fernando Gil Paiva
Um homem sentado em uma cadeira estende sua mão.
Uma mulher de idade avançada dá pequenos passos em outra direção.
Personagens que estarão em breve entrelaçados pelo fato sem testemunho.
Um – o olhar voltado exclusivamente para fora segue sua travessia esperando a chegada do local da descida. Esse mesmo olhar é o que vê os outros dois personagens; Dois – o homem cheio de silêncio e envolto em pseudo proteção; Três – a mulher com tempo de imprecisão.
Assim estiveram juntos por segundos traçados pelo fator dito SUSTENTAÇÃO. A história sustenta-se por seus fatos e os atuantes diretos ou indiretos pela própria condição em que se encontram e que fazem o mesmo olhar condicioná-los.
Bem, segue a mulher com uma bengala presa com bastante firmeza em seus dedos longos. Cada passo é como o tempo do retrocesso (pois ela tem o hábito de retomar o passado a cada passo) e também o retrocesso do tempo que se esgota.
O segundo permanece parado. Está sentado e, com as mãos, apóia um prato, o qual sugere à idéia de seu alimento, seu sustento. “Ajude com qualquer quantia. Deus te abençoe”. Esse pedido feito em silêncio era lido constantemente por pessoas que iam e vinham, que apenas iam ou somente vinham.
Estavam ali as mãos que sustentam. A mão do homem que sustenta o prato que o sustenta; e a mulher que sustenta a bengala que a sustenta. Ações de reciprocidade, cada um em sua única esfera de relacionamento.
Quantas pessoas tão também capazes de ler o pedido feito no silêncio sugerido pela bengala?
Suas mãos podiam mais que sustentar objetos, mas ficou claro com a troca de olhar imaginária, inventada por um ávido olhar de execução, que mãos que sustentam são como as vontades que se pode executar. A vontade da chegada ao ponto final dela. A vontade da chegada ao ponto final dele. Ambos pontos desconhecidos. Mas cada um com fim estabelecido.
Uma mulher de idade avançada dá pequenos passos em outra direção.
Um homem sentado em uma cadeira mantém sua mão estendida.
Um olhar vem de um ônibus que sobe a longa avenida.
Mas o que seria se os três pontos finais fossem de uma mesma sentença?
domingo, 5 de abril de 2009
por Fernando Gil Paiva
O lançamento do livro Fascinado pela Beleza mostra uma profunda análise dos filmes de Alfred Hitchcock mostrando principalmente a parte que compete às histórias dos filmes em si e suas estrelas, as musas Hitchcockianas. Além de entrevistas e informações do diretor que não foram divulgadas.
Tippi Hedren – Os Pássaros.
Shirley McLaine – O Terceiro Tiro.