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terça-feira, 12 de maio de 2009

Testemunha Ocular

Virada Cultural - São Paulo / 2009
por Ariana Paiva

Sampa tirou o terno e a gravata para receber 4 milhões de pessoas com o lay-out tênis, jeans e camiseta. É a Virada Cultural 2009, 24 horas ininterruptas de atrações, apresentações circenses, shows, do rock ao brega, intervenções, festival de cinema, teatro e muito mais.
Sábado (02/05), 16:30, peguei a programação e fiquei extasiada com tanta coisa boa: Tom Zé, Arrigo Barnabé, Zeca Baleiro, Cordel do fogo encantado, Tutti Frutti, Maria Rita...nossa! Mas eu tinha que fazer escolhas, então resolvi começar com Arrigo Barnabé – Clara Crocodilo, fui pra fila do Teatro Municipal, centenas de pessoas na minha frente, depois de uns 40 minutos veio a notícia, teatro lotado, acabaram os ingressos, e agora? Ficar na fila para o próximo show? De jeito nenhum, com tanta coisa acontecendo, resolvi andar ali pelo centro.

Ao lado do Teatro Municipal, um mini espetáculo com participação do público. Parei, dancei, cantei com eles e segui para a Praça da República, palco do rock, show do Tutti Frutti, banda que Rita Lee já foi integrante, agora a vocalista é Sol Ribeiro, que com sua voz super gostosa não deixa nada a desejar, eles eletrizaram a galera com seus solos de guitarra e todos cantamos “ovelha negra” juntos. No ápice do show, a produção fez sinal para encerrar, e o público gritava: MAIS UM! MAIS UM! Era visível que os integrantes da banda queriam continuar, pois a proposta era tocar o álbum “Fruto Proibido” na íntegra, mas eles foram “empurrados” pra fora do palco, então a vocalista voltou correndo, pegou o microfone e gritou: “ELES NÃO DEIXAM!” Foi simplesmente hilário!

Depois de Tutti Frutti, fui em direção ao Viaduto do Chá, vi artistas acrobatas no prédio da prefeitura, apresentações musicais e artistas autônomos dando um show à parte, a festa estava linda! Todos andando tranquilamente, sem a paranóia da loucura da megalópole, com um único objetivo: curtir, desfrutar, vivenciar e se divertir!

Continuei andando, cheguei à Praça do Patriarca para assistir o espetáculo “Le Chant des Sirénes” do grupo Mecanic Vivant, é inacreditável o que estes franceses conseguem fazer com simples sirenes.
"Le Chant des Sirénes”, Foto de Ariana Paiva.

Depois disso, pra mudar um pouco o ritmo, fui direto para a tenda eletrônica, mas já estava ficando impossível andar, a cidade estava lotando.

Domingo, 8:45 da manhã, calçadas encharcadas, não, não choveu, era xixi mesmo, faltou banheiro e a equipe da limpeza não deu conta do recado. Ouvi um andarilho xingar: “- Hei...tão mijando na minha casa, pô! Seu bando de... *#&%$§**.” Não sei se era de rir...ou chorar.

O cheiro forte da urina era insuportável, lembrei de uma frase do Zen Budismo: ”Haja sem apego e sem aversão”. Então vamos lá... direto pra Av. São João pra não perder o “Cordel do fogo encantado.” Entrei no meio do povão (que aliás, de ontem pra hoje multiplicou), mirei o palco e fui, mal consegui sair do lugar, andei uns dez metros, mas faltava ainda uns cem, a cada passo eu ficava mais espremida, me senti como laranja prestes a virar suco. Saí do meio da muvuca e fui pra um lugar de onde eu via o palco de muuuuiiito longe, mas pelo menos dava pra dançar. E o show foi demais!!! Enquanto o Cordel animava os “servos dos loucos de Deus,” vários artistas acrobatas, bailarinos, voavam em guindastes sobre nossas cabeças.

Ao meu lado estavam meus amigos e também andarilhos, crianças, artesãos, gringos, pombos, cachorros, todos na mesma sintonia, e nesse momento que pra mim foram minutos mágicos, senti uma energia incrível de comunhão e paz com todos os seres habitantes desse planeta! Imersa nessa energia boa, meus amigos e eu fomos até a Praça Alfredo Issa, curtir um sambinha de raiz pra não esquecer as origens.

Meio-dia, hora de sair correndo, voltar pra Av. São João, ver Zeca Baleiro. Isso mesmo, os espetáculos não atrasavam nem um minuto e por isso...aff afff haja fôlego! Agora eu quase não via mais o palco e o corpinho começava dar os primeiros sinais de cansaço, pausa para recarregar as baterias, fui convidada a ir a um dos lugares mais visitados de São Paulo, entre a Ipiranga e a Av. São João tomar o famoso chopp do Bar Brahma. Tocavam lá três músicos da velha guarda com violino, acordeão e violão, eles cantavam (só no gogó), andando de mesa em mesa, e pra minha surpresa e dos meus amigos mineirinhos, a nossa foi presenteada com a música... “Oh Minas Gerais, Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais, Oh Minas Gerais!!!” O bar inteiro aplaudiu e este foi mais um dos momentos mágicos da Virada.

Da sacada do Bar Brahma, eu via o telão da Av. São João e que privilégio, assisti o show dos Novos Baianos ali mesmo, dava pra sentir a alegria de Baby e Pepeu no palco.


Bom, aqui está muito bom, mas, Maria Rita já deve estar no aquecimento, e esse eu quero assistir de pé, vamos lá, agora não existe diferença entre ruas e calçadas, todas borbulham de gente, pessoas se espremem nas janelas, marquises das lojas, monumentos e interagem com o evento.

18 horas de domingo, gritos, foguetes e aplausos pra receber Maria Rita, que sobe ao palco de vestidinho curto, dançando como uma bailarina faceira, e como ela mesmo prometeu... Rodou a baiana!!! Ela estava linda, irradiante, iluminada! Cantou a primeira música, parou e agradeceu à São Paulo, ao público, embargou a voz e o povo aplaudiu. Ela estava muito emocionada e eu arrepiava a cada palavra, parecia até que Elis estava ali.


É muito difícil transcrever o que aconteceu nesses dois dias mágicos, é a primeira vez que vejo quatro milhões de pessoas juntas em harmonia, pelo menos os dados confirmaram e nenhum caso grave foi registrado. A limpeza, sim, deixou a desejar e muito! Mas acredito que a prefeitura de São Paulo não deixará isso estragar a festa na próxima Virada.
P.S.: Parabéns pelo texto e que grande momento!! (Fernando =D )