sábado, 20 de junho de 2009

Pontos de Vista - Reportagem

A Biblioteca Central da UFMT para quem trabalha, quem estuda e quem quase nunca freqüenta

por Fernando Gil Paiva


Aline e Renata vão sempre à biblioteca central da UFMT, mas isso não foi sempre assim. As duas são alunas especiais do mestrado de Enfermagem e não tem muito tempo que a biblioteca virou o lugar de estudo delas. Tudo porque elas precisam de foco para seus estudos e isso elas podem encontrar estando fora de casa. O mesmo não acontecia em tempos de graduação, que elas ainda não tinham a visão da necessidade do estudo e nem do objetivo certo disso para suas vidas.

Para Aline e Renata, esse despertar da biblioteca não surgiu tão cedo, mas para muitos alunos, a rotina universitária inclui esse espaço de conhecimento como se fosse a sala de suas casas. Tem gente que vai lá logo cedo. Na verdade, qualquer hora vai ter gente estudando lá, e se for fim de semestre, as mesas certamente estarão bem ocupadas. A realidade de muitos alunos inclui a biblioteca como sua segunda casa. Lá eles estudam, entram na internet (novidade relativamente recente), dormem, comem... Mas como as próprias funcionárias Enemar – da portaria – e Nairce – da administração – dizem, “os que vão são sempre os mesmos”. Logo, muitos alunos sequer passarão por lá, talvez nem mesmo em seus mestrados ou para uma visita rápida.

Há trinta anos, Nairce e Enemar trabalhavam na biblioteca central em meio aos livros. Nesse tempo, estudantes vieram, criaram laços com os funcionários, inseriram-se no ambiente, partiram, seguiram seus caminhos e profissões. Para essas duas testemunhas que viram a evolução do lugar, a biblioteca está hoje menos cheia do que antes e não apenas para as duas, os estudantes também têm suas opiniões sobre essa ausência.

Do antes ao depois

Nairce de Amorim, que fica na parte de auxiliar administrativo, acha que a redução de alunos na biblioteca ocorreu simultaneamente à difusão da internet. Antes os alunos se viam obrigados a recorrer aos livros e “hoje quase todo mundo tem internet. Quem não tem, paga para ir a uma lan-house”, diz. Esse seria um dos grandes motivos para que o aluno evite sair de casa. Nairce colocou também que há três anos, por exemplo, o número de alunos de outros lugares (escolas e universidades) era maior do que o próprio número de alunos da UFMT que freqüentavam o lugar.

Enemar Pinheiro, a atendente da biblioteca, entretanto, acredita que a ausência dos alunos está principalmente na falta de interesse em aproveitar o lugar e o material que a universidade está oferecendo. De acordo com ela, ainda hoje, na parte da noite, 90% dos alunos são de escolas de cursinho e concurso. Um fato que se assemelha à opinião das estudantes de mestrado Aline e Renata.Quando falam das mudanças de espaço interno e do sistema presente na biblioteca, as funcionárias de longa data contam que a pesquisa de livros está completamente atualizada de modo que o aluno pode ir à biblioteca, fazer sua busca rápida e saber se tem o livro e onde ele está. Esse processo de dinamização das funções também mudou um quadro que vinha tomando um grande esforço da caneta para o papel. “Para cada livro que saía da biblioteca precisávamos escrever os dez dígitos da matrícula do aluno, nome, além das informações necessárias para o empréstimo do material. Nós atendíamos em pé”, disse Nairce. Enemar, ao falar das melhorias frisou a climatização do espaço, a chegada dos computadores para funcionários e alunos e o sistema de cadastro de todo material.

De fora da biblioteca


Do lado dos alunos, as outras tantas histórias. Tanto daqueles que sempre vão, como daqueles que foram raras vezes ou nunca foram. Gyan Lucca e Camila Graham, estudantes de Rádio e TV, freqüentam a biblioteca quando realmente surge a necessidade. Gyan, por exemplo, só foi três vezes à biblioteca. A primeira foi logo no início da faculdade, em 2007, e as outras duas para pesquisar livros que precisava, como foi o caso de “O Príncipe”, de Maquiavel. Camila vai quando sabe que o livro que precisa tem lá. Antes até ia para estudar, mas hoje em dia vai muito menos porque estuda em casa ou no trabalho.

Paula Letícia, de Publicidade e Propaganda, sempre vai à biblioteca setorial, onde encontra os livros que precisa. “Sempre que o material que o professor nos dá não é suficiente, vou à biblioteca setorial ou compro os livros que acho serem os mais essenciais”, comenta. Outra dificuldade é a distância e o tempo. Como Paula entra no trabalho muito cedo, não sobra tempo para ir até a biblioteca central, que fica distante do bloco de Comunicação Social. Para completar, Gyan acha que a biblioteca tem um acervo clássico grande, mas encontrar os livros exigidos pelos semestres mais avançados é muito mais complicado. “Não se encontram lá as bibliografias mais recentes”, conclui.

O acervo

A biblioteca central tem aproximadamente 167.000 mil exemplares e o ponto de vista sobre a desatualização do material é comum tanto dos funcionários, estudantes que freqüentam e os que não freqüentam. Quanto aos livros existentes, Nairce concorda que “muitos alunos reclamam sempre que o material se encontra velho e defasado e pedem que mais livros sejam comprados”. Dilma Machado de Barros, bibliotecária e representante da Coordenação da Biblioteca Central da UFMT, disse que os departamentos de cada curso da universidade preparam uma lista da bibliografia necessária. “Essa lista geralmente chega aqui até julho, pois a verba sempre chega por volta de outubro. Quando os nomes chegam aqui, uma checagem é feita para ver se o acervo tem algum dos itens do pedido e também a quantidade de cada um. O pedido é encaminhado para o Setor de Materiais da UFMT, que é geral para toda a universidade”. Depois disso, existe o tempo do processo de compra e chegada dos materiais, que não foi mencionado por Dilma.Por isso, as estudantes de mestrado, Aline e Renata, sempre vão à biblioteca com o material que o mestrado disponibiliza ou que procuram na internet. Apelam pelo fato de não terem artigos científicos disponíveis na biblioteca para estudar. Aline também fala da ausência de programas de texto nos computadores, como o Microsoft Word, para que os alunos possam digitar seus trabalhos.

De volta para dentro e com muita disciplina

Para Elisa Vitório, que cursa o 3º ano de Direito, num bloco que é vizinho de frente à biblioteca, é mais fácil ir. Antes ela até confessa que ia muito mais, mas depois de ter arrumado um emprego fica muito mais difícil. Elisa acha que estar na biblioteca faz com que ela crie uma disciplina maior em seus estudos, já que lá não tem nada que a disperse, o que não acontece em casa. No seu caso, “virou uma questão de pequenos momentos como intervalos de aulas e dias que algum professor não vinha. A constante atualização das leis e códigos do curso é algo que a biblioteca não consegue acompanhar. Muitas vezes acabamos indo para outras bibliotecas que não a da UFMT”, comenta.Outras frequentadoras, Aline e Renata, que vieram estudar na UFMT vindas de Redenção (PA) e Morrinhos (GO), respectivamente, também acham que a disciplina é algo realmente forte e “estar na biblioteca contribui para não perder o foco”. Mas não apenas isso. Depois de terminar a graduação, as alunas dizem ter mais visão do que precisam, enxergam a real necessidade do estudo e o objetivo disso na carreira delas. O que não acontecia na graduação, pois as duas amigas quase nunca iam ao lugar.

E assim, seguem as outras tantas histórias de alunos. Os que são de Cuiabá, os que vieram do interior ou de outros estados e que tem a biblioteca e a universidade como segunda casa. Gente que estuda e que vive o espaço acadêmico desde o café da manhã em alguma cantina até o jantar no RU às sete da noite. Pessoas que passam ali para conhecer, ler um livro, acessar a internet, voltar a ler, estudar e dormir. E no outro dia, regressar e criar a citada relação com os funcionários, conhecer o lugar e onde ficam os livros que mais leem, que mais precisam. Depois voltar para casa e continuar. Tem gente que volta no outro dia, e voltará sempre – “os que sempre vão” –, há aqueles que precisam de um livro, em outra ocasião, no próximo mês ou próximo semestre e aqueles que passarão pela frente e não entrarão, por falta de interesse ou curiosidade.

2 comentários:

  1. eu lembro dessa entrevista!
    foi malz naum estar comentando
    vc viu q nem atualizar direito meu blog eu tô
    minhas ultimas postagens foram ridiculas
    mas isso naum vai mais se repetir!

    ResponderExcluir
  2. “os que vão são sempre os mesmos”. Logo, muitos alunos sequer passaram ou passarão!!!!!!
    O Foco, a disciplina e o gosto pela leitura quando vem desde a infância perdurará certamente, não é mesmo Nando- leitor inveterado rsrs.

    ResponderExcluir