sábado, 2 de maio de 2009

Parte I - Tributo Frida Kahlo - As Duas Fridas

E desde então, sou porque tu és

E desde então és

sou e somos...

E por amor

Serei... Serás...Seremos...

Pablo Neruda

por Fernando Gil Paiva
O alterego do coração


Porque um é pouco demais
Não é possível, muito menos cabível que eu
Possa me assegurar em apenas um corpo
Ainda mais sendo ele de todo frágil
E em processo de acabamento
Mas não acabamento de finalização
Acabamento de acabar mesmo, de-te-ri-o-ra-ção...

[de.te.ri.o.ra.ção]
[deter i o ra ção]
[de ter i ora ção]
[d t r i o a ã ]
[ r a ]

Vejo ao meu lado meu outro eu
O alterego que me suporta e que leva tanta
Culpa, sente tanta dor e morre tanto quando
Morro a cada dia que passa, e tem cada gota
De sangue que jorra num corpo que nos é comum

Sou a ordinária – dos dias mais comuns
Sou o relicário – para as rendas e as brancuras dos tecidos
Em uma mão seguro as artérias de um coração
N’outra, a tesoura fissurada por fissuras
Ávida pelo corte da separação
Um coração do outro

Nos olhos quietos
Mas um tanto quanto irrequietos
Pousa a mesma borboleta que pousa no corpo imóvel – o meu
Sou toda sangue, sou duas vezes sangue
Posso ser duas vezes mais ou duas vezes menos
Para cada pequeno detalhe que de mim for tirado

O relicário se abre e de lá sai a ordinária
A ordinária veste o vestido branco da noiva
E a noiva ordinária, que não está de branco
Logo sairá para seu casamento
Ela não gosta de branco e tampouco será
Selada por tal guardador de relíquias

A tesoura vai matando
Mata um pouco de sua fome
Separa apenas um pouco do que são dois corações
Fortemente ligados um ao outro
Ela está meio morta daqui, meio morta dali
Meio com meio que dá um
Um inteiro de possibilidades
Mas isso ainda não lhe bastará
Porque um é pouco demais

2 comentários:

  1. Se num corpo frágil como uma borboleta esconde-se uma fortaleza, essa é sem dúvida Frida!
    Felina
    Rigorosa
    Inimaginável
    Divina
    Amável...Assistir o filme de sua história no mínimo nos enche de coragem...

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