segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sustentação Baseado em fatos reais
por Fernando Gil Paiva


Um olhar vem de um ônibus que sobe a longa avenida.

Um homem sentado em uma cadeira estende sua mão.

Uma mulher de idade avançada dá pequenos passos em outra direção.

Personagens que estarão em breve entrelaçados pelo fato sem testemunho.

Um – o olhar voltado exclusivamente para fora segue sua travessia esperando a chegada do local da descida. Esse mesmo olhar é o que vê os outros dois personagens; Dois – o homem cheio de silêncio e envolto em pseudo proteção; Três – a mulher com tempo de imprecisão.

Assim estiveram juntos por segundos traçados pelo fator dito SUSTENTAÇÃO. A história sustenta-se por seus fatos e os atuantes diretos ou indiretos pela própria condição em que se encontram e que fazem o mesmo olhar condicioná-los.

Bem, segue a mulher com uma bengala presa com bastante firmeza em seus dedos longos. Cada passo é como o tempo do retrocesso (pois ela tem o hábito de retomar o passado a cada passo) e também o retrocesso do tempo que se esgota.

O segundo permanece parado. Está sentado e, com as mãos, apóia um prato, o qual sugere à idéia de seu alimento, seu sustento. “Ajude com qualquer quantia. Deus te abençoe”. Esse pedido feito em silêncio era lido constantemente por pessoas que iam e vinham, que apenas iam ou somente vinham.

Estavam ali as mãos que sustentam. A mão do homem que sustenta o prato que o sustenta; e a mulher que sustenta a bengala que a sustenta. Ações de reciprocidade, cada um em sua única esfera de relacionamento.

Quantas pessoas tão também capazes de ler o pedido feito no silêncio sugerido pela bengala?

Suas mãos podiam mais que sustentar objetos, mas ficou claro com a troca de olhar imaginária, inventada por um ávido olhar de execução, que mãos que sustentam são como as vontades que se pode executar. A vontade da chegada ao ponto final dela. A vontade da chegada ao ponto final dele. Ambos pontos desconhecidos. Mas cada um com fim estabelecido.

Uma mulher de idade avançada dá pequenos passos em outra direção.

Um homem sentado em uma cadeira mantém sua mão estendida.

Um olhar vem de um ônibus que sobe a longa avenida.

Mas o que seria se os três pontos finais fossem de uma mesma sentença?

Uma sentença de vida ou sentença como frase / oração, ou até mesmo oração de uma mesma prece... Prece de vida e vidas em comum. O comum que era invisível e invisíveis que eram cada um de nós – ela, ele e eu. Uma mulher, um homem e um olhar.

2 comentários: