segunda-feira, 27 de abril de 2009

As vidas após o desperdício

por Fernando Gil Paiva

O texto que segue trata-se de um editorial para uma suposta revista que tem como capa a reportagem: As vidas após o desperdício.

A informação de que a humanidade sempre esteve em meio aos seus próprios desperdícios nunca foi uma coisa assustadora para as pessoas. Razão disso é que a maioria de nós jamais irá ver todo esse lixo formando montanhas e rios de líquidos e materiais pútridos. Só no Brasil, 240 toneladas são produzidas por dia. Isso é um prato cheio para as famílias da ilha das Flores lá no Rio Grande do Sul, na Boca de Lixo em São Gonçalo (RJ) ou em qualquer outro lixão do Brasil onde tenha uma família que desses meios se mantém.

A primeira razão é que famílias que se alimentam do lixo não precisariam, na prática, ter que esperar que a comida fosse jogada fora e depois para suas bocas; A segunda vem de dados do Instituto Akatu, que mostra que 1/3 (um terço) de tudo que se compra vai direto o lixo. Qual o preço do preço do financiamento dos lixões? Parte significativa do bolso de cada um.

Mas esse ciclo de ações não fica restrito apenas a perder seu dinheiro, formar pessoas mais conscientes, difundir novas práticas de reciclagem, mas também reduzir o desmatamento pela menor produção de lixo e gerar novas fontes de renda e oportunidades.

Jurema é moradora da Boca de Lixo de São Gonçalo e um de seus sonhos é ter doze filhos. Ela já tem sete. No documentário homônimo ao lugar, o diretor Eduardo Coutinho mostra o que a maioria de nós nunca irá ver – a estreita ligação do lixo com a vida de seus dependentes. Na reportagem de capa, que fala sobre as vidas após o desperdício, o lixo vira banquete e algoz – é a mão que leva o alimento e a que dá o tapa na cara da sociedade cega. Nas páginas que seguem, abra os olhos para que essa mão não chegue até você.

Jurema, à direita.

2 comentários:

  1. A miséria é viver do lixo...ou é gerar lixo de forma desenfreada para abaster pessoas como nós que por sentir a falta de opção de suas vidas enveredam para esse mundo sem volta!
    Pobre é quem está na miséria ou é quem não vê saida na vida? DIFICIL!!! Bjs

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  2. Parabens Fernando... Gostei desses temas do seu blog.. está abrangendo a contracultura amplamente.. vou acompanhar sempre agora..


    Cledio (cledinho)

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