quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre funções e suas interpretações

por Fernando Gil Paiva

O trecho que segue é o relato, análise e contemplação dos atos de efeito de dois seres que tinham e ainda tem o hábito de supressão de verdades por um vasto tempo de suas vidas. A falta de consistência é o reflexo das múltiplas anulações daquilo que foram como indivíuos colaborativos de seu universo em questão.
Cabe ao tempo designar e distribuir funções para as pessoas durante suas existências. Vários são os fatores que as levam a “receber” essas tarefas e missões. Certas coisas podem ser inclusas no grupo das funções de obrigação – como uma mãe que tem a responsabilidade para com a vida de seu filho; outras são as funções de inerência – em algum momento da vida, [você], como uma enzima, tem a perfeita propriedade de se encaixar no substrato em que se encontra, e a tarefa é feita pelo simples fato de que, por natureza, você é inseparável da coisa envolvida; por último tem-se a mais complexa, aquela que pode ser negada, a chamada função absens* (ausente por escolha, não por destino).
Muitos são os que por razões julgáveis revestem-se desta para justificar parte daquilo em sua vida que não foi perpetuado. A grande cilada dessa última classe é que para um ato negado a outrem, tem-se um ato negado a si, pois a função foi anulada bem como parte do curso próprio da vida deste ser.
Então, imaginemos um indivíduo, ou melhor, indivíduos que, despreocupados com esse fator, acostumaram-se de modo relapso a optar pela facilidade do mesmo. Some-se quase três décadas e meia de pequenos atos enquadrados na absens. Como consequência, tem-se indivíduos consumidos por algo que eles nem mais são capazes de reconhecer, tamanha está a ausência.
Agora – atribua essa condição à mãe e ao pai, ambos adeptos da prática. É por isso que aquele certo indivíduo que chega ao quarto e os vê isolados está também paralisado, pois o que ele vê, dissociado de algo conhecido anteriormente, é realmente a descrição do nulo – a de carne e rugas – perdidos em algum estado de exaustão e imissíveis na propriedade de interação com o mundo.
Os pontos não se tocam. Eles nunca se tocam. Suas funções estão esgotadas por aquilo que eles próprios criaram e inseriram em suas vidas. O que é, então, o resultado da prática de cada ser humano menos a conta de suas negações sejam por opções ou maiores obstáculos? Qual o preço de uma negação diante de um repleto caminho de possibilidades palpáveis? Quanto cada um está disposto a se ausentar em prol de um passo mais ligeiro no caminho que deve ser corrido devagar? Talvez os seres acima descritos não tenham sabido, talvez a grande questão de tudo é ter a capacidade de discernimento desse complexo e inconsciente - não, ou sim revestido.
*Absens - do Latim, ausente.

Um comentário:

  1. Absens- essa palavra me incomoda... PORQUE SER AUSENTE É NÃO FAZER PARTE DA VIDA DO OUTRO- triste, muito triste quando essa ausência é voluntaria! Perde-se a oportunidade de fazer o outro feliz e consequentemente atrairá solidão pra si!bjs te amo

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